segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Dores


Sabe o que dói mais nos ritos de passagem? É não saber confortar o outro...a minha dor eu amenizo, preparo curativos e bandagem. Suporto. Sempre suportei separações, brigas, intrigas, cortes e cortes e mais cortes e depois de horas a fio, trancada no meu quarto- repleto de ausências e desertos- as lágrimas acabam lavando-me com perfumes de conformação. E quando menos espero, lá estou eu gargalhando com algum papo jogado fora com os amigos, ou mesmo em casa, onde sempre encontrei boas histórias. 

Mas tem algo que não sai da minha cabeça, não tem saído, é verdade, faz morada nos meus ouvidos, são gritos e gritos e gritos. Eu queria roubar a sua dor para mim. Queria sim. Para tratá-la como sempre fiz com meus ais. Se há algo no mundo que não podemos furtar é o sentimento alheio, não posso embalá-lo, não posso conter seu choro, não posso falar, porque só pertence a você a dormência dessa agonia.  Velo seus passos calados pela casa, velo seu sono inquieto, seu choro fazendo toada com a canção de Chico. 

E de mim só posso dizer que nunca fui boa para orações ou palavras de conforto, porém guardo nos braços todos os abraços que puder lhe dar.