quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Caminho




cacei palavras para compor um verso
me costurei no inverso da folha branca
empalideci no tempo e observei
o tapete de flores caídas ao chão

aprendi a digerir o não e a melodia branda
tirei as farpas dos dedos e compreendi
é o desafeto que toca o trem
também a falta de sonhos me faz sonhar

é a linha férrea que me faz seguir a terra
a cor cinza me faz querer o azul
as cordas entoam as marcas plantadas
na minha estrada em linha reta.


(Juliana Trentini)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Romântica




não quero a voz
já tenho o pensamento
ele se propaga ressonante
caindo feito areia do tempo

já te prendi no verbo
trancei seus dedos
nos fios dos meus cabelos

cosi seus medos na linha dos lençóis
preparo o dia para que chovam girassóis

não quero a voz
já tenho o pensamento

(Juliana Trentini)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Água corrente




O mundo cabe nas palavras
E as palavras não cabem em mim
Exacerbam o ser que se projeta e se desfaz em frases
Transbordando as margens e atravessando o leito
Do rio que corre perfeito por entre as pétalas brancas
Exalando medos enraizados em meu jardim.


(Juliana Trentini)

domingo, 9 de agosto de 2009

Diário da Ju





Hoje a fala é totalmente autobiográfica, estava meio jururu como muitas vezes em minha vida, tenho uma tendência poética à melancolia, não vejo isso de uma maneira negativista, acho a melancolia um charme.

Sou uma blogueira, adoro ler os blogs alheios, fiz um comentário no de uma colega que falava sobre o amor bobo... o comentário dizia o seguinte:

“O amor é mesmo bobo, desarruma cama, casa, deixa a gente com tantas asas que caímos com mais velocidade e por mais bobo que ele seja, é sempre mais esperto que nós mesmos.“

E esse todo bobo amor que carrego em mim tem me preparado cada armadilha e tenho ganhado vários puxões de orelha de minha mãe, ela ainda não se adaptou a modernidade do “ficar” e não entende que eu tenho tanto amor, mas tanto amor pra dar que eu posso compartilhar com várias pessoas “ao mesmo tempo”... chega de me denunciar. Ai vai um tema roubado do blog que tem cheiro de café:



Segredos de amor bobo


Um convite. E a resposta: “– Certo, eu vou!- “ Foi! Conversas sem fins lucrativos, TV e ventilador de teto ligados e os olhares... “Apaga a luz!” (bem Marisa Monte). Ele apagou e acendeu suas vontades, a timidez ainda tomava conta do comportamento feminino da garota, havia o toque expressivo e desajeitado dos dedos e o riso vinha com a ansiedade enfeitar o seu rosto delicado. – Do que você está rindo?- perguntou ele. – Nada!- E não era nada mesmo, era reflexo do medo de se envolver, mas já estavam envolvidos. Não era amor, nem paixão, era um gostar sem nomenclatura.

Ela passou a noite furtando o seu lençol, volta e meia acordava e percebia o “crime” cometido, se aproximava e dividia o tecido, enlace, perfume. De manhã quase tarde, rostos virados para disfarçar o hálito (nem tudo é perfeito), muitos abraços. Depois, ela foi para casa, passaram a se desencontrar nos dias em que se seguiram. “você invade mais um lugar onde eu não vou”. Ela mudou-se para um interior distante, sem tempo para despedidas, não houve comunicação.

Ele continuou com sua vida notívaga, conheceu alguém, começou a namorar, gostava mas não amava (só pra variar). Ela voltou, mas ele não havia esperado. Ambos sentiram falta do affair mal acabado que haviam tido. Ele sentia falta dela roubando seu lençol, ela sentia falta do que nunca pode sentir por ele. Ele permaneceu com sua namorada, eles nunca mais conversaram e continuaram a invadir os mesmos espaços...” há um desencontro, veja por esse ponto”, um encontro desencontrado, ou vários...segredos de liquidificador, lençol, travesseiros, medos, um amor bobo que nunca se permitiu ser amor de verdade e acabou assim como os que são de fato.


(Juliana Trentini)

domingo, 2 de agosto de 2009

Conformismo




A chuva deu adeus à cidade, inaugurou-se um dia cheio de sol e nuvens branquíssimas, devido a sua enfermidade, só pode espiar a claridade pela janela, observando as pessoas que caminhavam, os carros que passavam e os crentes que seguiam com suas bíblias em direção a igreja que tem pertinho de sua casa, no som um CD bucólico tocando e um desejo enorme de comprar uma casa no campo, onde pudesse preencher seus vazios com a natureza que tanto gosta.

A capital sempre o vence, ele não consegue deixar a cidade, emprego, correria, dinamismo. A vida o escolheu para ser assim, não foi ele que escolheu essa vida pra levar... Para, inerte sobre sua cadeira do papai e pensa: - Vou encarar esse teatro de ser feliz e subir no palco do destino- Ele prosseguiu com seu forjado conformismo e com seu falso amor declarado, pois não ama nem a si mesmo, ele jamais entenderá o amor, pois não é digno de senti-lo.

Entregou os pontos e foi envelhecer, sentado na cadeira do papai, olhando o tempo passar pela janela e uma frase corriqueira e desagradável – Mulher, traz uma xícara de café!-.

(Juliana Trentini)