quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Silêncios

O mundo gosta de nos silenciar
mas há tantos barulhos
tantos barcos sem marés

estou cansada de excessivos remos

as luzes ficam mudas
como os meus olhos
e os olhos dos homens que desembarcam

peço pelo prefixo -des
(des)
Faço
(des)
Ato
(des)
Construo

mas só aporta a desventura
entre doenças crônicas e perdas futuras
uma criança não nasce, outra naufraga 

e assim segue meu coração
tentando resgatar a menina que se perdeu na dança
no palco
nos enfeites

deixo as águas seguirem...

Não quero mar, quero trilhos.

chão
...
chão
...

lá estão os feixes e as moedas para os peixes...que cozinhamos juntos.







domingo, 16 de agosto de 2015

Poema e narrativa ou poema narrativo para Giovanna

Nas asperezas dos descaminhos
encontro encantos e delicadezas
nos doces, no jeito discreto e simpático de sorrir,
no mar de ondas calmas.

Há dores por todos os lados,
previsões de desastres,
lamentações infinitas...

descarto todas as pedras
e perdas.
Descarto.

Há areia do tempo pedindo cheiro de lavanda.

Há a chuva implorando lá fora para que agosto passe depressa.

Há um tear esperando o fio e palavras.

Houve um desvio, mas a vida se encarregou de desviar para outro rio...que corre depressa para desaguar em outros mares.

Há sua voz serena chamando em sonho e o seu sol fará morada em um breve espaço.

As corujas fazem duetos em meu quintal, tudo aqui é natureza. Verás quando amanhecer...

A noite agora finda, só os grilos invadem este silêncio, procuro pontos finais para não pensar em suas canções de ninar.

Pego colchetes emprestados, digo adeus aos versos.

Espero o passo,
eu não me apresso e me descalço.

Sento, leio uma história para você.

Espero outras tantas para contar...

Adormecer...

repousar...

A noite agora finda...


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sem poesia

Ando tão sem poesia
não carrego livros de bolso
nem tenho mais Shakespeare na ponta da língua
nem casamentos festivos para dizer coisas bonitas

Exigência
é o lema da vida
nunca vesti o hábito
pudera
não sei fazer rezas
nunca aprendi

meu hábito é vestir o amor erroneamente

pesado
negro
sem sol

Mas a vida é:
Exigência.

E o café amargo espera
e é preciso colocar as roupas no varal
curar
perfumar
e infinitivos
verbos
versos
que guardo comigo

O amor é meu abrigo. 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A vila

Um caminhão espera.
organizo caixas e embaralho as ideias.


Na vila,
o verde
o lago
a travessia
e um sol bonito para caminhada

Mas,
na vila
não estará Tuffy, nem Seu Chico...
Nem a matriarca elegante e tristonha...
Nem o patriarca (do outro lado) com a ufologia, a ditadura enraizada, os resmungos e o cheiro ruim de cigarro.

Na vila,
não haverá o banco de praça,
nem o Pau-Brasil,
nem as cantorias do passado.

Na vila,
outras vozes desafinarão
e cria-se uma ilusão
de que o mundo é um mundo de paz.

E aqui jaz o número 8844
o pé de jambo, a goiabeira
as cocadas, o iogurte de pote e o bolo de chocolate de placa.

Na vida,
há que se deixar a vida para trás.


Caixa

Marisa encontrou os velhos poemas do Rosa.
Havia uma caixa repleta deles,
viraram papel reciclado.
Despediu -se de velas,
pétalas
e sóis.

Marisa parou e pensou:
Quantos oceanos há no mundo?
Sem certeza, decidiu navegar
e percebeu já ter sido
Atlântico, Índico, Antártico e Ártico.
Hoje é Pacífico.

Mas dentro da Marisa, só há espaço para um rio raso,
de pouca correnteza e poucos peixes.