quinta-feira, 28 de abril de 2016

ontem

Sobre o ontem:
Desaprendi a entender o silêncio
Tudo faz barulho
Principalmente o inaudito

Tento restaurar alguma paz
Mas ficou presa nos meninos desafinados e desafiadores

Sinto o ferro das grades
Ao meu redor tudo é verde
Mas cá no inverso
Há meu avesso no esconderijo

Lanço ao mar
Tudo que vivo
Arrisco
O que já deixou de riscar...
Rabisco...

Conclusão

Poderia ser o primeiro sol
Das primeiras frestas de janeiro
Entre o mar e o morro
Entre areias e tempo
Areias do tempo
Escorrem e morro.

Romantizo uma molécula
Nada tem de poética
Insisto em versificar

Os móveis tomam forma
Mas a vida está fora do lugar
A canção toca:
"Talvez eu seja pequena"
Não, não há talvez.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Das desistências

A minha maior desistência:
é não desistir...

Os dias correm em passos tão lentos
o tempo esvai
vazão de pensamento

corro as estradas
sempre tão ermas 
correndo de mim mesma
lamento não me encontrar

de todas as desistências
a vida tomou providência
de eu não desistir de tentar

de todas as desistências
a rima que desapego
insiste em me acompanhar

só o par
eu me entrego
desisto de não desistir
prossigo a roda sem freio
conduzo sem condutor
se amor eu já desisti
ele insiste em ficar em mim
e dói um tanto, um bocado
o poema acaba rimado, parecendo um cordel
a alma arteira e sofrida
fica aqui só o fel

dos desapegos
das desistências
insisto em não rimar nada
porque minha alma é levada
e me arranca de mim assim
não pede nem licença
e eu vou desistindo do amor
e eu vou desistindo da dor
e assim continuo a seguir...

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Silêncios

O mundo gosta de nos silenciar
mas há tantos barulhos
tantos barcos sem marés

estou cansada de excessivos remos

as luzes ficam mudas
como os meus olhos
e os olhos dos homens que desembarcam

peço pelo prefixo -des
(des)
Faço
(des)
Ato
(des)
Construo

mas só aporta a desventura
entre doenças crônicas e perdas futuras
uma criança não nasce, outra naufraga 

e assim segue meu coração
tentando resgatar a menina que se perdeu na dança
no palco
nos enfeites

deixo as águas seguirem...

Não quero mar, quero trilhos.

chão
...
chão
...

lá estão os feixes e as moedas para os peixes...que cozinhamos juntos.







domingo, 16 de agosto de 2015

Poema e narrativa ou poema narrativo para Giovanna

Nas asperezas dos descaminhos
encontro encantos e delicadezas
nos doces, no jeito discreto e simpático de sorrir,
no mar de ondas calmas.

Há dores por todos os lados,
previsões de desastres,
lamentações infinitas...

descarto todas as pedras
e perdas.
Descarto.

Há areia do tempo pedindo cheiro de lavanda.

Há a chuva implorando lá fora para que agosto passe depressa.

Há um tear esperando o fio e palavras.

Houve um desvio, mas a vida se encarregou de desviar para outro rio...que corre depressa para desaguar em outros mares.

Há sua voz serena chamando em sonho e o seu sol fará morada em um breve espaço.

As corujas fazem duetos em meu quintal, tudo aqui é natureza. Verás quando amanhecer...

A noite agora finda, só os grilos invadem este silêncio, procuro pontos finais para não pensar em suas canções de ninar.

Pego colchetes emprestados, digo adeus aos versos.

Espero o passo,
eu não me apresso e me descalço.

Sento, leio uma história para você.

Espero outras tantas para contar...

Adormecer...

repousar...

A noite agora finda...


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sem poesia

Ando tão sem poesia
não carrego livros de bolso
nem tenho mais Shakespeare na ponta da língua
nem casamentos festivos para dizer coisas bonitas

Exigência
é o lema da vida
nunca vesti o hábito
pudera
não sei fazer rezas
nunca aprendi

meu hábito é vestir o amor erroneamente

pesado
negro
sem sol

Mas a vida é:
Exigência.

E o café amargo espera
e é preciso colocar as roupas no varal
curar
perfumar
e infinitivos
verbos
versos
que guardo comigo

O amor é meu abrigo. 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A vila

Um caminhão espera.
organizo caixas e embaralho as ideias.


Na vila,
o verde
o lago
a travessia
e um sol bonito para caminhada

Mas,
na vila
não estará Tuffy, nem Seu Chico...
Nem a matriarca elegante e tristonha...
Nem o patriarca (do outro lado) com a ufologia, a ditadura enraizada, os resmungos e o cheiro ruim de cigarro.

Na vila,
não haverá o banco de praça,
nem o Pau-Brasil,
nem as cantorias do passado.

Na vila,
outras vozes desafinarão
e cria-se uma ilusão
de que o mundo é um mundo de paz.

E aqui jaz o número 8844
o pé de jambo, a goiabeira
as cocadas, o iogurte de pote e o bolo de chocolate de placa.

Na vida,
há que se deixar a vida para trás.


Caixa

Marisa encontrou os velhos poemas do Rosa.
Havia uma caixa repleta deles,
viraram papel reciclado.
Despediu -se de velas,
pétalas
e sóis.

Marisa parou e pensou:
Quantos oceanos há no mundo?
Sem certeza, decidiu navegar
e percebeu já ter sido
Atlântico, Índico, Antártico e Ártico.
Hoje é Pacífico.

Mas dentro da Marisa, só há espaço para um rio raso,
de pouca correnteza e poucos peixes.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Sol noturno

I

Desencadeei candeeiros
Em face de uma noite escura.
Em mim há floreios
Da vida que nos traz armaduras.

 
Plantei um canteiro,
Em um dia que resolveu fazer sol.
Fiz barcos,
Cantei,
Quando apenas sabia dançar.
 
Fiquei só.
Fiz remo, então.
Fiz canção, poesia.

Musicar caminhos é possível,
Só não é possível ser perecível,
Quando o corpo... sei que é.


II

E a alma?

Minha alma anda
Em moinhos,
Na encosta,
 
...
 
Minha alma se desnuda
e debruça
na maré.
 
E se o sonho soluça
a solução é:
a minha alma segue a pé.