segunda-feira, 6 de maio de 2013

Crômpoiesis II

não tenho vocação para Penélope
não sei fiar, nem navegar
só sei um latim ruim
um inglês vago
o português entende meu silêncio
o desastre nas palavras
a evasão literária é composição

como convencer matemáticos e químicos
a advogar a metafísica das letras?
esquecendo regras
entendendo tempos e seus reflexos europeus...

como é difícil amar os versos
e fazer amá-los
com uma identidade que chegou tão tarde
barca do inferno e dos céus
quixadas, quixotes, delírios seus

sem armaduras ou Rocinantes
sigo
sigo adiante
sem saber
qual mundo é meu.

assim sei lá

crômpoiesis

um neologismo barato
como conselho ofertado em cada esquina
autoajuda ajuda a quem?
Ninguém furou o olho do gigante
e foi para o mar.

leio todos os dias livros interessantes
tenho algemas
mas não sou Ninguém para lutar bravamente
rendo-me

alguns reais, aspirina e gripe
prefiro uma gripe a muita gente
mas tenho medo de adoecer
não de adoecer gravamente e acordar morta
vagando atrás da barca
medo de adoecer e fechar portas e janelas
e naufragar em solo

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Estes meus olhos nunca perderam
um sonho, um medo, uma chuva
à noite
tudo dorme
menos eu e um verso à toa
a cama é boa
o pranto nem tanto
o mundo atordoa
a proa, direi-vos
bamba e manca, pende
e a vida, no fim
acaba em samba