sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Sol noturno

I

Desencadeei candeeiros
Em face de uma noite escura.
Em mim há floreios
Da vida que nos traz armaduras.

 
Plantei um canteiro,
Em um dia que resolveu fazer sol.
Fiz barcos,
Cantei,
Quando apenas sabia dançar.
 
Fiquei só.
Fiz remo, então.
Fiz canção, poesia.

Musicar caminhos é possível,
Só não é possível ser perecível,
Quando o corpo... sei que é.


II

E a alma?

Minha alma anda
Em moinhos,
Na encosta,
 
...
 
Minha alma se desnuda
e debruça
na maré.
 
E se o sonho soluça
a solução é:
a minha alma segue a pé.
 
 

 

 

 

sábado, 8 de novembro de 2014

A dor da cor

A dor da cor?
Não a tenho.
Mas a sinto.
Sinto pelas Rosas, pelas Marcelas, pelas Lorenas, pelas Geízas
Sinto pelos olhos, pelos cabelos.

A dor da cor?
Eu me enegreço.
Me engrandeço.
Ao entrar numa roda de coco;
Ao fazer falsos caracóis;
Ao encarar o nosso ontem com tristeza e reflexão.

A dor da cor não deve ser esquecida,
não deve ser resumida a se dizer "isso está nos olhos de quem a vê".
Devemos ler o Lobato, ouvir o Chico, Luis Caldas e as marchinhas de carnaval.
Se erramos no passado? Isso deve ser sempre lembrado!
Não quero cometer o erro igual.

A dor da cor?
É apagá-la, é resumi-la a um quintal.
A dor da cor não se limita a uma coca-cola para tomar e combinar.
Mas eu a tomo para mim para dividir a dor pungente, a dor que vi.

Para tudo, há o poema

O problema da vida é a prisão.
Existir requer algemas.
Certidões.
Registros.
Livro de ponto virou digital.
A palavra vale cada vez mais, nada.

Abandonei os riscos.
Tudo hoje é receio.
Para não me sentir ao meio,
faço do poema meu livre arbítrio. 


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Poema para elas


Cada um guarda sua dor.
Uns em gavetas.
Outros na alma.
No céu.
No ventre.
São tantos ais.

Guardo as minhas lamentações em alpendres,
deixo as redes embalando, fazendo vento e canções.

Não sei fazer consolo,
não sei cantar,
não sei amar direito.

Mas lá vem de novo o vento,
traz fermento, traz semente,
e de repente, doce verbo é nascente.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Naquele tempo

Naquele tempo eu podia ser feliz
hoje perdi esse direito

perco os dias sendo infeliz
e lamento

e para o mundo tudo é trabalho
martelo
martelo

boa operária

para existir
eu faço versos

domingo, 29 de junho de 2014

Só uma nota

O mundo em festa e o coração pesa. O egoísmo aparece em frestas obscuras. Como saber? Como pensar sobre o que se esconde na profundeza da alma do outro? Desgosto.Tantos caminhos...o verde, o lago, o sonho. E a pedra vira poeira e faz névoa. E faz chover. E faz chorar. E quem será capaz de amanhecer e fazer cais?

domingo, 22 de junho de 2014

A certeza das incertezas

Sempre que leio certos versos,
tenho mais certeza de que tudo foi incerto.

A vida e a velha filosofia da aspirina em copo de água...

Por vezes quero quebrar o tempo, estraçalhar o relógio
e sair correndo pelos quintais da encosta,
brincar de esconde-esconde entre as roupas cheirando a amaciante.
Amacia um pouco a existência, mas tudo volta a doer.
Toda queda dói, mas nasci para me curar.

Entre Madre Tereza e Dom Quixote, existo eu.
Doçura e loucura.
Missão e sonhos.
Bondade e coragem.

 Invento moinhos que não são gigantes.
Gigante mesmo é o meu coração e seu livro de ponto.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Veredas

A vida se destina a dividir
lugar para o escritório
pano de copa
onde ficará o sofá
luz minha, água sua

Amor nos tempos de praticidade
amor com obrigações e verdades
amor que Platão abandonou

O feijão do Chico
faz a gente ficar de bico
                            [calado.

O importante é isto:
o alimento.
E se tempera com o que se tem.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Jardino

Não lhe visitei porque não pude.
Não sei como agir,
jamais tive boa relação com flores de buquês,

mas previ: a chuva em breve começaria
e fui até o jardim.
O seu jardim será sempre seu,

repleto de jasmins,
tapete alvo formado sobre pouca grama.

São tantas cores espalhadas pela casa
cores jamais vistas em minha infância
cores jamais suas

Gostaria de dizer que tenho saudades
sinto muito por não ter

tentei sentir o cheiro das pitangas
mas só as flores vivas
e as mortas é que cheiravam

E só a vida vazia, aflora.
Eu agora é que tenho um chão
e percebo que sempre estive em um.

São Pedro, já pode descer!


sábado, 10 de maio de 2014

Lar

Na juventude - não precisamos de tijolos -
só de caminhos e céu,

mas quando os maracujás resolvem florir,
tudo muda.

Leio Pessoas e fico pensando nessa ladainha toda
que a vida é [nada mais que aceitação]

Cartola via o moinho no mundo
e a tristeza tratava de colorir um samba
-assim sorria para levar-

Meu sorriso é calado.
Feito o copo de leite que cresce sozinho em meio a folhas amareladas
às vezes esqueço de regá-las.

O fado é assim.
Com ou sem guitarra para acompanhar a canção.

Preparo a casa.
Em breve, cultivarei meu próprio jardim.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Colecionadora

Coleciono
corujas
cartões de aniversário
livros sobre Manuel.

Coleciono mais:
erros.

Manoel coleciona desperdícios
e faz chão com as palavras.

Perder é meu ofício.
Não há tempo de voltar atrás.



domingo, 30 de março de 2014

Espelhos

Vejo tanta beleza na feiura.
Vejo tantas possibilidades nas negativas.

Cansa-me
esse mundo de Narcisos.

Espelhos...
Espelhos...
Espelhos...

É água.
É fundo de rio.

Espero
que a chuva leve...
os olhos, o vidro,
a passagem.
A beleza esgarça
e o vazio consome
o homem que insiste em esvaziar. 

Espero que a chuva leve.
E eleve
as almas desgastadas pela imagem.









Minha lírica

A lírica do moribundo
Manuel
Ariès
Elias
Rodrigo
Freud

Eles são tantos
e eu fiquei sozinha no mundo.

Tento consertar as janelas que a chuva deteriorou.
Não nasci para a carpintaria.
Não nasci para os prazos.
Há dardos que não lancei...

Mas a vida joga os dados por mim
e compõe uma lírica desengonçada,
desastrada - como sempre fui -
nesse tabuleiro cujo o destino escolheu.






terça-feira, 18 de março de 2014

Deixa

Deixa o tempo.
Deixa o cais.
Deixa o sonho para trás.

A vida se ajusta.
O corpo se adapta.
A fome?
Renome.

Temporais.
Sóis.
Silêncio?
Nunca mais...

Deixa,
deixa que o mundo se ajeita,
deixa que o verso estreita,
mãos,
deixa.
Vãos.
Deixa...


quinta-feira, 13 de março de 2014

Queimo os dedos.
Sempre fui desastrada,
tropeços,
quedas na escada.
Não esqueço da cena,
chego atrasada na sala,
sento, derrubo a mesa e os livros.
- Clarice deveria mudar o título de: ''Desastres de Sofia'' para ''Desastres de Juliana.''

Não discordo.
Recentemente aprendi a não discordar de nada.
Quão felizes são aqueles que ignoram ou os que esquecem.
Mas eu não sei esquecer
e desgosto mais do mundo.

O ponta pé, a rasteira, o corte no telefone.
Hipertiméstica. 
Fardo.
Mas dizem que ''Deus nunca nos dá um fardo que não possamos carregar.''
E levo comigo: a lembrança, a tristeza e a cruz. 



Angústia

Às vezes
a vida é tão dura
tão difícil que cristaliza

as chuvas de março chegam
sem cessar um minuto sequer
por momentos penso que minha alma vai embora
seguindo o percurso das águas...

março, abril, maio
anunciam minha tempestade
o grito, o medo, o anseio

não é tempo de sol
é tempo de abismos
sou templo
de vícios



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Ariadne

O meu fio
fia caminhos
para outros.

-Estou perdida em meu próprio labirinto-

Procuro a espada
o Minotauro vence
uma batalha que não lutei.


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Aprendi a usar a língua cedo
não para beijos,
nem para colar selos.
Portuguesa sem Camões.

O coração se criou sozinho
entre ninhos de cobras e de corujas.
Noturna.
Tenho um sol percorrendo avenidas todas as manhãs
e quando é mais tarde me estende a mão, o braço e o consolo.

Solo
duo
e a vida fala
em um triângulo hermético.

Nasci com dois pés esquerdos
em sintonia tocam o chão toda manhã
os dedos mindinhos são tortos
os olhos são de engolir o mundo
a velocidade está nos cabelos
e as palavras desencontradas
em garrafas enviadas no oceano errado

Benvindo junto é nome próprio
Sejam bem-vindas as cores
as dores também
porque rimar só faz bem
quando fere e cicatriza
quando ameniza o tempo ruim
e planta hortaliças no quintal que ainda não tem

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Faço uma prece
meio sem jeito
nunca fui muito católica
nem na religião
nem no amor

domingo, 5 de janeiro de 2014

O capoeira

Uma rasteira
o capoeira ensinou
a não fazer manha nem birra
mas fugi do batizado.

Não aprendi a lutar
nem a dançar direito
mas danço
e planto manhãs.

O relógio dourado na parede denuncia:
é preciso nascer o dia!
Quero mesmo é a madrugada
vazia
e repleta de sinceridades adormecidas.

O mestre há de me acordar
vai mandar tocar o Berimbau...
eu fujo de novo
não sou de canções
gosto do quintal vasto para me esconder.

Na vida, é preciso garantir o esconderijo.
O riso.
O meio.
E o receio.
Senão tudo é abismo.