domingo, 29 de março de 2009

Colecionador de erros




Hoje, ontem e antes de ontem, colecionei erros, muitos. Estou muito triste comigo mesma e vou tomar uma nova postura diante da vida. Errar é humano e não vou ficar me sentindo eternamente a última das criaturas. Errei, assumo o erro, levanto a cabeça e espero o próximo tombo que será completamente diferente, pois nesse sentido não vou mais pisar na bola. Como diria meu professor Zé da Luz: “ela é que nem aquela frase: “bonitinha, mas ordinária” no sentido de ser loirinha, mas inteligente”! E como creio ser uma pessoa inteligente, não vou colecionar os mesmos erros, vou buscar outros e seguir a minha reta. E como é de praxe, lá vai um aperitivo poético:


Colecionador de erros

Joaquim era errante
Não sabia que rumo tomar
Apenas seguia adiante
Joaquim bebia desenganos
Com abacaxi e uva
Ele se entregava ao chão
Buscando ultrapassar alguma fronteira

Era difícil perceber que atravessar o universo
Dependia apenas dele
Não era capaz de enxergar
E vivia entregue ao acaso
E jogado a própria sorte

Um dia, de repente, não mais que de repente
Em choro contemplava o céu
E sua alma chorou novamente
Cortou os lábios com água ardente
Em coro descobriu uma canção
Foi seguindo as notas e encontrou seu norte

Joaquim errou, errou
Joaquim chorou, chorou
Porque insistiu em tropeçar?
Só se sabe o que é prosseguir
quando se conhece o verbo cair

Joaquim errou, errou
Chorou, chorou
Joaquim o Amor, amou.

(Juliana Trentini)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Lágrimas


Hoje eu vi uma pessoa chorando, muito. Muito sensibilizada, muito tocada com palavras proferidas por uma poeta às avessas, digo às avessas porque Estamira a poeta que faço referência, é uma poeta nascida do nada.Então vem aquela pergunta: Mas os poetas e a poesia realmente brotam do nada, não? Nao exatamente!como assim, não exatamente?

Deixa eu tentar explicar, alguns nascem escutando uma outra voz e vão libertando-a ao longo do tempo, do aprendizado, da escolaridade e do gosto pela leitura.Outros nascem mamando poesia como eu, se eu não escrevesse nenhum verso solto, era de se estranhar...ouço poesia, respiro poesia, bebo e vivo desde que estava no útero da minha mãe ou talvez até antes disso, mas ai já engloba toda uma questão espiritual que não vem ao caso. Bom, no caso de Estamira, ela é uma mulher pobre que vive de um aterro sanitário e mora em um barraco, mas tem sabedoria e o dom da palavra como ninguém, embora diagnosticada como esquizofrênica, ela fala sobre aspectos da vida de uma maneira que nos faz entender o que é um sofrimento verdadeiro e talvez pensar que o amor seja mesmo uma instituição falida(mas eu prefiro não acreditar nisso).

O fato é que Estamira para mim é uma poesia nascida do nada, aliás, corrijo-me, ela nasceu do olhar para baixo de Manoel de Barros, ela nasceu do esquecimento, ela nasceu da violência, ela fermentou do desengano, ela é o retrato atual das chagas de Cristo.

O fato também é que eu poederia ficar falando aqui tudo que ela me representou em apenas um olhar, mas vou me calar diante dos fatos, quem quiser conhecer Estamira, assista ao documentário.

Aqui vai o aperitivo do dia...ele saiu de um olhar triste que observou outro e nada fez:



Para quem chorou

O vento quase não se hospeda nessa tarde
E os passarinhos cantam com vontade
O meu corpo me estranha
Minha alma não me acompanha

Uma sensibilidade vazia me invade
Um olhar estranho me observa
E eu vou plantando pedras
E conquistando lágrimas

É tão difícil ver alguém chorar
E não poder abraçar
Não estou acostumado a ser amigo ao contrário
Estou imóvel diante da dor
Simples espectador diante do quadro
Não podemos ser ensaio
A cortina se fecha antes que eu possa atuar
Ouço os aplausos dentro de mim
E o poeta se esvai assim

(Juliana Trentini)

quarta-feira, 25 de março de 2009

Primas


Amanhã vou buscar Silvinha no aeroporto, ela passará um mês aqui. Estou tão feliz que todo o meu egoísmo de pensar só em mim desapareceu completamente.
É incrível como a vida nos presenteia com amizades eternas, eu acredito na eternidade e acredito também que não existam diferenças e conflitos no mundo que desfaçam essa amizade, ou melhor, essa irmandade. Eu, Silvinha e Clá somos as “Três irmãs” da novela real que é esta.

Quando pensamos em alguém imediatamente ativamos uma relação com uma pré-coisa que se assemelha com essa pessoa, podendo ser um objeto, um lugar, uma cor, um poema, uma música, um perfume ou todas essas coisas unificadas. É lógico que em 22 anos de convivência, Silvinha tem uma representatividade unificada para mim, ela é um conjunto de pré-coisas. Mas na atual conjuntura, sempre que escuto Lenine, imediatamente me lembro dela, mais especificamente com a música “Paciência”. Por isso, essa música vem ilustrar o aperitivo poético do dia.


Paciência
Lenine
Composição: Lenine e Dudu Falcão
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

A vida não pára!...
A vida é tão rara!...


O tragicômico de tudo isso é que o mundo tem exigido de nós mais alma, mais calma e mais paciência mesmo. Mas até quando somos capazes de esperar? Até quando conseguiremos prender a palavra entre os dentes e disfarçar o olhar duro? Até quando deixar pra lá o desengano? Essa espera será um bom subterfúgio? E ter um pouco mais de paciência é positivo? Será mesmo? Tenho me perguntado isso ultimamente...tentei fazer as pazes com o mundo e fiz!Aprendi a ouvir mais, aprendi a não xingar e engolir tudo no seco. E pra que tudo isso? Só para as pessoas me acharem mais amável?Danem-se as pessoas!(nossa meu egoísmo voltou a ser latente). Danem-se as convenções, eu sou um vulcão em erupção mesmo, sempre fui.Não vou mais encubar minhas vontades e quando tiver vontade de xingar, não vou apenas dizer: “Ai que vontade de dizer um palavrão bem feio!”- vou xingar mesmoooo!E já que estou nesse momento impaciente, surgiu de mim a IMpaciência:




IMpaciência

A perna inquieta balança
Aprisiono o verbo na língua
Meus sentimentos tornam-se uma linguagem macarrônica
Balbucio impropérios em silêncio
Despejo meus desejos no inverso de mim
Faço verso às avessas
E em paciência forjada chuvisco um sorriso
E na face se apresenta uma inverdade

Não mundo, não vou te conceder o que não possuo
Não alma, deixe de me querer fazer de fantoche
Não há frase solta que me solte
Não há verbo que me acalme
Não há poesia que entorpeça
Não há faca que não corte
Não há corte que não sangre
Não há nome para calma
não há calma quando se tem alma.

(Juliana Trentini)

terça-feira, 24 de março de 2009

Um poema nasce da chuva


Ontem caiu uma chuvinha e achei que iria dormir tranquilamente, mas ao invés disso tico e teco martelaram a noite inteira.Meus pensamentos pareciam um caldeirão, e de chuva e de conversas pra variar no msn, surgiu um outro poema em conjunto, Maricota me concedeu uma estrofe e organizou o corpo do poema, como em sua estrofe ela cita a insustentável leveza do ser, título do livro de Milan Kundera, resolvemos colocar o título de intertexto.


Intertexto

São olhos de insatisfação
Eles espiam a chuva descer devagar
Até o tempo está ameno
A água cai em conta-gotas
E leio as palavras de devastação
que alastram-se mortas
em um eterno ressonar

Vejo o mundo lá fora dentro de uma gota
E o mundo cai lentamente da janela enferrujada
Caiu a insustentável leveza do ser
Me reponho e me recomponho todos os dias

sou horta morta
cultivada, regada ao luar
sou elevada, fabricada e colhida
e a alma é tolhida de cifras
canso de ser, de me recolher
junto-me a eles pra virar melodia

E assim nos aniquilamos diariamente
temos apenas que juntar os cacos
e tornarmo-nos um quebra cabeças
um xadrez de peças tortas
ou um labirinto sem passagens

Que imagem vês?
Que palavra eis?
Que mundo te abrigas?
Somos nós?ou estou sozinha
para plantar os sonhos?
Quero saber se vou colher verdade
Quero saber se seremos plural
Ou o que petrifica é a singularidade...

(Juliana Trentini e Mariana Rodrigues)


P.S:. Estou chata esses dias, amigos não liguem por favor, não é tpm, é que não durmo há tempos e estou cheia de trabalhos difíceis pra fazer.Talvez isso interfira na poética aqui presente, um tom meio melancólico se apresenta.Mas estou feliz, Silvinha vem quinta-feira e amanhã dedicarei uma postagem para ela.

Adiós

segunda-feira, 23 de março de 2009

Meu primeiro soneto =D


Mais uma madrugada insone...é, são exatamente duas em ponto, alguém está pensando em mim, espero que alguénS estejam(risos).Nossa, as olheiras estão cada dia mais evidentes e eu estou comendo loucamente nesse horário, vou ficar gordinha além de ter olheiras, mas "tô aqui, tô nem aí", quem quiser gostar de mim, que aprenda a conviver com meus defeitos, vou ficar gordinha, loira e linda!Linda???Por que não?Como diria Adélia Prado "Não sou tão feia que não possa casar".Um momento à la Narciso não faz mal.

Dessa nova madrugada que me nasce, nasce também a poesia recorrente, é claro!E assim de tanto nascerem palavras, um dia tinha que nascer um soneto, nossa era o meu sonho!!!
Será que eu consegui?Será que ele está plausível, um aperitivo bom de se degustar?Isso talvez seja querer demais, por isso sua nomenclatura é "Soneto Forçado", foi quase um parto, aliás, um parto deve ser mais simples, o nascimento de uma criança é uma forma livre, escrever em forma de soneto é uma forma presa, exige regra e eu não sou boa em obedecê-las, nunca fui, é verdade, sou transgressora da ordem e da paz, serenidade não está presente no meu dicionário.


E lá vai meu primeiro soneto:
(Bon apetit)



Soneto forçado

E a poesia em mim nasce
Em meio à madrugada insone
Carrego na face marcas da noite calada
E nos dedos carrego a palavra exaltada

Nasce em mim tudo que há
Saudade , verdade, passagem
A amizade virá de longe e ficará
A ansiedade cresce e segue viagem

Sigo o lado oposto da reta
E dá certo, errar é como o acerto
E a janela está sempre aberta

Eu fecho a porta só no começo
Quando desconfio do estranho
Abro o cadeado,presa fácil, me abandono.

(Juliana Trentini)

domingo, 22 de março de 2009

Ficar só

Essa semana passei a maior parte do tempo me encarando, conversando comigo mesma em pensamento, dialogando com as paredes, com os livros, com as canetas, sempre em companhia das palavras, sempre!

Estava escrevendo um poeminha tão ameno sobre a minha pseudo solidão, quando comecei a ouvir vozes, nossa, fazia tempo que isso não me acontecia.Fiquei meio em choque, chorei, me tremi todinha, fiquei falando com os amigos na net, fiz uma prece e espero que eu consiga dormir, ainda que sozinha.


O poema continuou ameno:


Solidão


Há alguns anos
Eu tinha medo
Do vazio, do silêncio e de ser sozinha
Hoje olho para as cortinas e ouço o vento zunindo devagar
Fazendo um balet em torno delas

Sinto o cheiro das panelas dos vizinhos
Não tenho fome
Mas uma vontade de cozinhar
E logo desisto quando penso na louça pra lavar

Ficar só é isso:
Ouvir o CD de Marisa Monte
E acreditar no amor
Ver da janela o mundo inteiro
E fazer as pazes com ele

Estou tão amena que me desconheço
Onde estão as ranhuras do pensamento?
Onde está aquela vontade louca de gritar
De chorar, rir, ou tudo ao mesmo tempo?

Eu me desconheço e vou me revirando nos lençóis da cama
Eu me desconheço e vou procurando palavras cruas
Eu me desconheço e vou me emoldurando nua
Eu me desconheço e anoiteço
E o sono não chega nunca.


(Juliana Trentini)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Eu, o amor, a poesia e outras cositas mais

Essa semana fui ombro amigo para meus amigos; dei minha cara à tapa e apanhei; pedi perdão e perdoei e procurei versos de conforto para mim e para os outros.
Ah!O que seria desse mundo se não houvesse poesia?Eu não consigo nem imaginar!Os valores já estão tão deturpados mesmo com a poética estando presente nos livros e nos olhares. Se não existissem as letras e as músicas, só haveria maldade.


Eu e minhas madrugadas insones e a companhia da amiga via MSN tem me levado a tentar corporificar as minhas idéias latentes, porém, a linguagem é limitada e eu não consigo extrair todas as minhas verdades e mentiras encubadas no pensamento.
Estou estudando esse mês a poética de Florbela Espanca e a de Manoel de Barros em disciplinas distintas, me identifiquei mais com Florbela, talvez por ser uma leitura mais fácil de s compreender, no entanto não menos repleta de substância e essência.Acho até que escolhi o nome da minha filha, se eu tiver uma...na minha família a predominância é feminina, meu pai tem três netas, eu sou a única que não lhe dei uma ainda.Será que terei meninos só porque prefiro as meninas?Enfim... isso não vem ao caso agora, só daqui há uns três ou quatro anos, ou nunca!


Voltando para a poesia... seguindo a vertente de Florbela que no presente momento me inspira, sou muito grata a essa mulher, aliás todas as mulheres deveriam ser, ela foi uma revolucionária, enfrentou a sociedade machista e foi tudo aquilo que achou que poderia ser.Matou-se, quando descobriu seu coração falido, creio que deu cabo de sua própria vida, pois depositou a condição de felicidade em outrem, achou que a plenitude estaria presente em um amor, em alguém que pudesse compartilhar a vida.Não achou, casou-se algumas vezes e partiu sem sucesso amoroso.


Abro um parêntese e afirmo categoricamente: “o amor não depende do outro que nos acompanha, depende de nós, não de maneira narcisista, ninguém casa-se com o espelho, o amor depende da maneira com a qual tiramos as pedras do caminho, da capacidade de sorrir sem vontade e de chorar com gosto e orgulho. O fim faz parte do processo, que valor teria o nascimento se não houvesse a morte?”
Todos os homens são mortais assim como o amor, não quero ser um Judeu errante, gosto de ser efêmera e distante, silenciosa e falante, gosto do que não se define. Como diria Clarice: “Eu sou uma pergunta!”
Descobri mais uma semelhança com Florbela... ela disse em um poema:

“ E nunca em meu castelo entrou alguém” (Castelã da tristeza)

Eu não espero por isso, no entanto, continuo a cultivar as tranças.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Primeiras palavras

Inaugurando o meu aperitivo poético:

Bom, aprendi hoje com Arnaldo Jabor que :

Nascemos sós. Morremos sós.
Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.
E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.”


Por isso meu primeiro poema aqui postado será o Monólogo...


Porém, no entanto, contudo e todavia, não há como compartilhar algo individualmente, somos seres sociáveis(pelo menos alguns são, eu sou!)Então, criei esse blog, graças a insistência de minha amiga Maricota e do meu desejo de dividir minhas sensações.

Espero que gostem, que compartilhem , que sintam, que façam correções, críticas, ao lerem meus poemas, ao me lerem, pois sou só palavras, e isso é fato!


Então, lá vai:


Monólogo


Quero tirar esse peso dos ombros

Mas é uma carga invisível

Difícil de se transportar

Quero tomar whisky do sertão

E gostar

Mas sempre prefiro o aperitivo

Sou protagonista dos meus desencontros

E coadjuvante do meu próprio palco

Ensaio cortinas abaixadas e coxias silenciosas

Enceno um ato falho

E vou vivenciando um monólogo

Por cima das casas que espio do sexto andar

Decoro falas e enganos

Os aplausos não chegam

Adormeço com a exaustão

Fim do primeiro ato.