quinta-feira, 26 de março de 2009

Lágrimas


Hoje eu vi uma pessoa chorando, muito. Muito sensibilizada, muito tocada com palavras proferidas por uma poeta às avessas, digo às avessas porque Estamira a poeta que faço referência, é uma poeta nascida do nada.Então vem aquela pergunta: Mas os poetas e a poesia realmente brotam do nada, não? Nao exatamente!como assim, não exatamente?

Deixa eu tentar explicar, alguns nascem escutando uma outra voz e vão libertando-a ao longo do tempo, do aprendizado, da escolaridade e do gosto pela leitura.Outros nascem mamando poesia como eu, se eu não escrevesse nenhum verso solto, era de se estranhar...ouço poesia, respiro poesia, bebo e vivo desde que estava no útero da minha mãe ou talvez até antes disso, mas ai já engloba toda uma questão espiritual que não vem ao caso. Bom, no caso de Estamira, ela é uma mulher pobre que vive de um aterro sanitário e mora em um barraco, mas tem sabedoria e o dom da palavra como ninguém, embora diagnosticada como esquizofrênica, ela fala sobre aspectos da vida de uma maneira que nos faz entender o que é um sofrimento verdadeiro e talvez pensar que o amor seja mesmo uma instituição falida(mas eu prefiro não acreditar nisso).

O fato é que Estamira para mim é uma poesia nascida do nada, aliás, corrijo-me, ela nasceu do olhar para baixo de Manoel de Barros, ela nasceu do esquecimento, ela nasceu da violência, ela fermentou do desengano, ela é o retrato atual das chagas de Cristo.

O fato também é que eu poederia ficar falando aqui tudo que ela me representou em apenas um olhar, mas vou me calar diante dos fatos, quem quiser conhecer Estamira, assista ao documentário.

Aqui vai o aperitivo do dia...ele saiu de um olhar triste que observou outro e nada fez:



Para quem chorou

O vento quase não se hospeda nessa tarde
E os passarinhos cantam com vontade
O meu corpo me estranha
Minha alma não me acompanha

Uma sensibilidade vazia me invade
Um olhar estranho me observa
E eu vou plantando pedras
E conquistando lágrimas

É tão difícil ver alguém chorar
E não poder abraçar
Não estou acostumado a ser amigo ao contrário
Estou imóvel diante da dor
Simples espectador diante do quadro
Não podemos ser ensaio
A cortina se fecha antes que eu possa atuar
Ouço os aplausos dentro de mim
E o poeta se esvai assim

(Juliana Trentini)

Um comentário:

  1. Estou orgulhosa de você. Ou será que você e as palavras fizeram um pacto de amizade?!
    Tô amando seus textos e a maneira como escreve.

    Esse texto junto com a Poesia me tocaram muito. Ando mais mole que manteiga do sertão. Um choro preso na alma. E fico imaginando como dever ser ruim sofrer sozinha. E pior ainda é não poder ajudar. Sensação de impotência ímpar.

    Essa vida dói... Um drink, Cowboy!

    Beijos!

    ResponderExcluir