quarta-feira, 25 de março de 2009

Primas


Amanhã vou buscar Silvinha no aeroporto, ela passará um mês aqui. Estou tão feliz que todo o meu egoísmo de pensar só em mim desapareceu completamente.
É incrível como a vida nos presenteia com amizades eternas, eu acredito na eternidade e acredito também que não existam diferenças e conflitos no mundo que desfaçam essa amizade, ou melhor, essa irmandade. Eu, Silvinha e Clá somos as “Três irmãs” da novela real que é esta.

Quando pensamos em alguém imediatamente ativamos uma relação com uma pré-coisa que se assemelha com essa pessoa, podendo ser um objeto, um lugar, uma cor, um poema, uma música, um perfume ou todas essas coisas unificadas. É lógico que em 22 anos de convivência, Silvinha tem uma representatividade unificada para mim, ela é um conjunto de pré-coisas. Mas na atual conjuntura, sempre que escuto Lenine, imediatamente me lembro dela, mais especificamente com a música “Paciência”. Por isso, essa música vem ilustrar o aperitivo poético do dia.


Paciência
Lenine
Composição: Lenine e Dudu Falcão
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

A vida não pára!...
A vida é tão rara!...


O tragicômico de tudo isso é que o mundo tem exigido de nós mais alma, mais calma e mais paciência mesmo. Mas até quando somos capazes de esperar? Até quando conseguiremos prender a palavra entre os dentes e disfarçar o olhar duro? Até quando deixar pra lá o desengano? Essa espera será um bom subterfúgio? E ter um pouco mais de paciência é positivo? Será mesmo? Tenho me perguntado isso ultimamente...tentei fazer as pazes com o mundo e fiz!Aprendi a ouvir mais, aprendi a não xingar e engolir tudo no seco. E pra que tudo isso? Só para as pessoas me acharem mais amável?Danem-se as pessoas!(nossa meu egoísmo voltou a ser latente). Danem-se as convenções, eu sou um vulcão em erupção mesmo, sempre fui.Não vou mais encubar minhas vontades e quando tiver vontade de xingar, não vou apenas dizer: “Ai que vontade de dizer um palavrão bem feio!”- vou xingar mesmoooo!E já que estou nesse momento impaciente, surgiu de mim a IMpaciência:




IMpaciência

A perna inquieta balança
Aprisiono o verbo na língua
Meus sentimentos tornam-se uma linguagem macarrônica
Balbucio impropérios em silêncio
Despejo meus desejos no inverso de mim
Faço verso às avessas
E em paciência forjada chuvisco um sorriso
E na face se apresenta uma inverdade

Não mundo, não vou te conceder o que não possuo
Não alma, deixe de me querer fazer de fantoche
Não há frase solta que me solte
Não há verbo que me acalme
Não há poesia que entorpeça
Não há faca que não corte
Não há corte que não sangre
Não há nome para calma
não há calma quando se tem alma.

(Juliana Trentini)

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