Prometera fazer um bolo
de fubá. O seu preferido. Os dias foram
passando, meses, anos e ela nunca arrumava tempo. Sempre ocupada com as
palavras, com os prazos, com todos, menos com o seu avô. Também nele nada era
convidativo, o cigarro sempre aceso, a ausência de cheiro de colônia, o tom de
voz nunca era o ideal “Juliana, fala mais alto! Você sabe que eu sou surdo.” E
quando subia o volume...”Também não precisa gritar, eu ainda escuto”. E o
diálogo era muito difícil. E os temas também não despertavam muito interesse,
hora era o exame de próstata, hora a prótese dentária. Nem os extraterrestres
que durante muito tempo foram a temática preferida viriam a permear nossas
conversas. Aliás, há muito tempo não havia mais conversas...
Tudo foi varrido com o vento, imitando sua atividade diária. Era um homem que gostava da casa limpa, da rua limpa, embora não tenha conseguido jamais fazer isso com sua própria vida. As amarguras do passado, os traumas e a tristeza o fizeram um homem duro, solitário, sem amigos. No entanto, sempre foi um homem bom. Deve ter se tornado um gari de nuvens...
Da próxima vez, deixará o forno aquecendo enquanto bate o bolo, antes que a massa encontre a morte antes de ser fermentada, para que não se transforme em poeira, folhas secas e uma receita no papel.