sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Aprendi a usar a língua cedo
não para beijos,
nem para colar selos.
Portuguesa sem Camões.

O coração se criou sozinho
entre ninhos de cobras e de corujas.
Noturna.
Tenho um sol percorrendo avenidas todas as manhãs
e quando é mais tarde me estende a mão, o braço e o consolo.

Solo
duo
e a vida fala
em um triângulo hermético.

Nasci com dois pés esquerdos
em sintonia tocam o chão toda manhã
os dedos mindinhos são tortos
os olhos são de engolir o mundo
a velocidade está nos cabelos
e as palavras desencontradas
em garrafas enviadas no oceano errado

Benvindo junto é nome próprio
Sejam bem-vindas as cores
as dores também
porque rimar só faz bem
quando fere e cicatriza
quando ameniza o tempo ruim
e planta hortaliças no quintal que ainda não tem

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Faço uma prece
meio sem jeito
nunca fui muito católica
nem na religião
nem no amor

domingo, 5 de janeiro de 2014

O capoeira

Uma rasteira
o capoeira ensinou
a não fazer manha nem birra
mas fugi do batizado.

Não aprendi a lutar
nem a dançar direito
mas danço
e planto manhãs.

O relógio dourado na parede denuncia:
é preciso nascer o dia!
Quero mesmo é a madrugada
vazia
e repleta de sinceridades adormecidas.

O mestre há de me acordar
vai mandar tocar o Berimbau...
eu fujo de novo
não sou de canções
gosto do quintal vasto para me esconder.

Na vida, é preciso garantir o esconderijo.
O riso.
O meio.
E o receio.
Senão tudo é abismo.