quinta-feira, 23 de julho de 2009
De vinho e de violão
Nada para fazer na capital provinciana, dia chuvoso, um quase frio, aquele vento do litoral bem característico da cidade. Na rua, apenas luzes em alguns postes, outros já queimados, a calçada se dividia em um barroco contemporâneo entre luzes e sombras. Dentro da casa, eles repartiam o tédio, um casal jovem com a alma idosa, sem muitas afinidades. Como foram pensar que um dia poderiam ser compatíveis? Mas pensaram e queriam estar juntos.
-Vamos fazer nada juntos?- Abriram uma garrafa de vinho tinto suave e barato, ele pegou o violão e foram compor, letra e música, sem declarações de amor, ela acha o romantismo algo brega, ele é ultra-romântico. A música? Não falava de amor.
Entre cordas, dedos e o roxo macerado dissolvido em goles, havia a necessidade, a necessidade humana de encontrar um chão e um caminho, as inquietações depositadas no travesseiro, esse era o plano sensível do conteúdo. Essa era a estética da poesia adormecida no papel e vivenciada na melodia saltada do violão.
Aquele foi o último momento em que ela se sentiu feliz, decidiu partir e foi seguir sozinha como gostava de ser, respirando as páginas dos livros e espiando a passarada da passagem do seu destino.
(Juliana Trentini)
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Exaustão
não consigo dar um passo
não sigo nenhum compasso
não há mais uma letra
ou rima
não há mais uma música
ou ritmo
nem formato
ou retrato
sou uma exaustão
que realiza uma combustão
química ou não
estou vestida de notas musicais
eu cancioneiro sem ás
razão sem gás ou fôlego
sem sal ou soro
rio que corre no leito
sou choro que entoa o peito
verso saltado do violão
Canção.
(Juliana Trentini)
Sambinha chorado
a saber sofrer
ninguém me ensinou
mas é preciso sofrer
pra saber o que é amor
não choro nem um chorinho
a canção vai caindo aos pouquinhos
é feito rio
que corre do olhar
para tentar levar
um canto de pesar
mas só quem sofre
sabe amar
pois nessa vida
nada se conquista
sem errar
pois nessa vida
nada se tem
sem tentar
(Juliana Trentini)
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Feliz dia do amigo
Aperitivo do dia:
Meus amigos
Meus amigos
Quando os revejo
Depois de somados anos
Deixam-me triste:
O amigo que tive
Não é aquele mais gordo
Ou mais magro.
Meu amigo era mago.
Meus amigos
Quando os reencontro
Depois de tanta camada
De dias passados e pensados
Deixam-me tonta
Se não encontramos a palavra
De resgate.
Ser amigo é arte.
(Anchella Monte)
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Solo feminino
Ela é pedra e ainda assim se parece com uma interrogação. Gosta do roxo e do branco (paradoxo), tem dias que está para Florbela, tem dias que está para Sophia. Ela é o tempo... Instável, no entanto, caso existam recursos, facilmente descobre-se a metereologia de seu sangue.
Cansa com as idas e vindas em ônibus lotados com pessoas cheirando a perfume barato e/ou suor. Ela não é tão chata quanto parece, mas gosta dos cheiros simples: de sabonete e de sonhos. Enjoa com coisas doces demais!
Gosta de música antiga e poesia moderna, alimenta-se de medo e se arrisca todos os dias. Cobiça o inexistente que habita alguma atmosfera pré-existente. Está sempre desconfiada, no entanto, rende-se facilmente ao inimigo.
Se fosse um instrumento seria uma flauta, suave e elegante. Se fosse uma cor, não seria, seria um vitral ao sol, pois cada dia ela é uma e todo dia ela é só.
(Juliana Trentini)
Aperitivo poético:
Regresso para mim
e de mim falo
e desdigo de mim
em reencontro
os pontos
um por um:
o sol
os braços
a boca
o sabor
ou os meus ombros
Trago para fora
o que é secreto
vantagem de saudade
o que é segredo
Retorno para mim
e em mim toda
desencontro já o meu regresso
Maria Teresa Horta
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