terça-feira, 13 de novembro de 2012

Misticismo


a cigana leu o meu destino
ela não era cigana

fazia esfiha e café
ela mentiu

o seu sorriso feliz e convincente
denunciou seus olhos

a mentira revela mais
sou vidente

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Só uma nota

Tudo é perecível, menos a poesia...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Bolo de fubá


Prometera fazer um bolo de fubá. O seu preferido.  Os dias foram passando, meses, anos e ela nunca arrumava tempo. Sempre ocupada com as palavras, com os prazos, com todos, menos com o seu avô. Também nele nada era convidativo, o cigarro sempre aceso, a ausência de cheiro de colônia, o tom de voz nunca era o ideal “Juliana, fala mais alto! Você sabe que eu sou surdo.” E quando subia o volume...”Também não precisa gritar, eu ainda escuto”. E o diálogo era muito difícil. E os temas também não despertavam muito interesse, hora era o exame de próstata, hora a prótese dentária. Nem os extraterrestres que durante muito tempo foram a temática preferida viriam a permear nossas conversas. Aliás, há muito tempo não havia mais conversas...

Tudo foi varrido com o vento, imitando sua atividade diária. Era um homem que gostava da casa limpa, da rua limpa, embora não tenha conseguido jamais fazer isso com sua própria vida. As amarguras do passado, os traumas e a tristeza o fizeram um homem duro, solitário, sem amigos.  No entanto, sempre foi um homem bom. Deve ter se tornado um gari de nuvens...

Da próxima vez, deixará o forno aquecendo enquanto bate o bolo, antes que a massa encontre a morte antes de ser fermentada, para que não se transforme em poeira, folhas secas e uma receita no papel.

terça-feira, 7 de agosto de 2012










Repreendo-me
Senhora de mim
Pastoreio rebanhos
Comando uma nau vazia
Senhora de mim
Pastoreio rebanhos e montes
chuvarada e correntes
Morte
para o que se nega florear

sábado, 14 de julho de 2012

Sou feita de chuvas
e tenho um sol para adormecer

terça-feira, 8 de maio de 2012

O relógio caiu
o café derramado
escorrendo separações
tempo
e
signos
chás para as náuseas
carqueja, camomila, boldo
chá para a alma
afago
consolo

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Danos

Talvez pudéssemos repará-los
Não há cura
Para um mal

Peguei a lavanda
Como água e sal
Estanca

Dobrei as vestes
Uma a uma
Flores silvestres cravadas no quintal

Lágrimas mínimas
Não sangrarei um oceano
Oceania de pássaros
Revoada
Vou

bailarinando os danos
Pendurarei
 os planos no varal
Ventania escreve
as lições em sua pele

Vilã 

Vil

tantos sóis
plantarei
fora da vida

nascente
das saídas

água
é corrente



Juliana Trentini