sábado, 16 de novembro de 2013

Poema para minha mãe

Ela disse:
-Hoje encerro o tempo da poesia.
Mas a poesia é ciclo vicioso
é rio e não para de correr

Ela insiste em fechar as janelas
porém a luz do corredor estará sempre acesa
como as vozes das crianças, as cantigas e brincadeiras sem fim

O tempo das dores chegou mais cedo
Maria,
poderia perguntar pela rosa
você não gosta de rosas
só se estiverem bem plantadas no jardim

o jardim
é quase escasso
mas há um banco de praça com Pau-brasil sombreando
enquanto houver banco, praça, vasos...
haverá semente para fomentar versos

E alguém falará das doenças
você esconderá as suas
e as meninas bagunçam e agitam os ventos

os verbos se confundem
Pretérito perfeito, imperfeito
tanto faz
temos o futuro do presente - dedilhando-
e ele se fia com palavras
mesmo que desfiemos em lamas de várzea
mesmo que a dureza da vida coloque pedras sobre o colorido dos fonemas

não é possível enterrar vida
sepultamos apenas o que morre
e até a morte em nós renasce





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