quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Repetição
Decisão. Não. O não sempre foi o caminho mais fácil para ela, prefere fugir da probabilidade do erro a levar um tombo. É péssima quando se trata de curativos, prefere manter o equilíbrio, evitando cordas bambas, poços de piche...
Andar descalça? Nunca! Pode ter um caco de vidro no caminho. Sangue. Vermelho. Vinho tinto apenas, barato, o bom que é ruim, sempre bom.
Misturando as tintas do olhar sempre se extrai música boa e poesia, e tudo acaba com a chegada da manhã. Apenas sorvem-se goles de lua nos raios de sol e nos fios de cabelo estão o cheiro dos segredos e do sim, contrapondo-se a sua eterna preferência pela negativa.
Houve uma repetição, uma ressonância ecoando. Agora o hiato e conseguinte virá o adeus de fato.
(Juliana Trentini)
Aperitivo poético do dia:
Lembrete
Se procurar bem, você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida,
mas a poesia (inexplicável) da vida.
(Carlos Drummond de Andrade)
http://www.youtube.com/watch?v=RhrjgnsnNqQ
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Sem razões
Razão? Nenhuma. São sempre as não-razões que a circundam e que a carregam para contornar as ausências da solidez e brutalidade de uma pedra, desgastada pelas idas e vindas das ondas do mar, esse eterno clichê a acompanha junto às passadas curtas das suas pernas brancas que têm desejo de maior velocidade, porém caminham devagar e sempre. E esse “devagar e sempre” é eternamente uma tortura para o cérebro, constantemente mais veloz que as demais partes do corpo.
A pergunta solta inicial é devido as suas vontades...essas que aniquilam, esses quereres que tanto se querem e nunca sabe ao certo como são, o que são e por que são.
Leitor, você deve estar tonto com tanta confusão de ideias. Sim, o autor está confuso quanto a sua personagem, ou será que se fundiram e não há mais distinção entre o ser que escreve e o que vivencia? Acho que não há, as vozes se encontraram e se perderam no mesmo e simplório discurso. E esse logos fala do mesmo motivo de sempre, que tira o ser humano de órbita, que tantas vezes já foi dito e ainda assim se diz novamente.
Pergunta: Amor? Paixão? Sim e não! E lá vêm os paradoxos...é que gostamos de sentir, mas gostaríamos de saber que gosto tem a paixão, que sabor tem o amor. Tentamos, tentaremos infinitas vezes (o sempre de novo, prefiro o nunca, preferimos, é mais forte, tem gosto de café amargo). Mas esses “corações de ninguém” apenas queriam ser comuns, entregues, presas, pescado, prisão. No entanto, sua condição de estado é a de liberdade. Não adianta querer quebrar as correntes, a gente é para o que nasce.
“Navegar é preciso, viver não é preciso”
(Juliana Trentini)
Aperitivo poético do dia:
Soneto da dúvida
Um calor fogoso, uma tocha ardente
Desejo que clama, anseia e castiga
Uma dor gostosa, malvada e amiga
Canto amistoso dum rosto indolente
Açoite açoitando a pele da gente
A ferida aberta na carne viva
É doença selvagem, aguda e ativa
Estaca enfiada num peito impotente
Pensamento novo e carência mágica
Ensejo altivante de cores trágicas
Tagarelar mudo de bela flor
Semeando a pureza em terrenos vastos
Iniciando a vida de corpos castos
É paradoxal o sentimento amor?
(Leôncio Neto)
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Inversão
Amanheci noite. Essa dubiedade existencial inquietante povoa mais meu pensamento que a chuva de granizo que cai no asfalto e em meu apartamento. Teto, anseio e solidão...são canções que fermentam meu dia-a-dia, definição: Ela é muitas! obrigatoriedade errônea gramatical, ser plural é necessário e os medos vou depositando nas gavetas do armário junto aos amores recortados em cartas, fotografias e pétalas secas, passado.
Não quero ser invasiva , evasiva ou covarde e é por isso que sou calculista (do bem). Anoiteço enquanto é dia. Como é bom ser contradição e poesia.
(Juliana Trentini)
P.S:. Textinho feito de presente para Marana, Hellen e para mim mesma...é um mix de todas nós, penso eu ou não.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Adeus
Feito um bordado, procurou o melhor fio, a melhor linha e teceu uma despedida aguda e fina, delicada e bela como o amor que sentia, sentia também por não sentir mais nada. Preparou o tempo, conversou com São Pedro e pediu um dia cinza, o adeus combina com essa cor, essa ausência de luz representa a melancolia.
Procurou o melhor CD, colocou no som, o envolveu entre lençóis com direito a cafunés, massagens e beijinhos de esquimó, o cinza foi logo substituído pela escuridão da noite...ela estava munida de sonhos e não viu nenhuma estrela no céu, ele era ausente e pálido e vazio, tão vazio.
O fim foi sem substância com pouco afeto e muito alívio. Sem explicação nenhuma as pessoas se prendem a outras e a coisas que não acrescentarão nada em suas vidas, mas ela era muito ciente disso e calculou cada passo que daria e até onde poderia chegar numa perspectiva sem referencial algum, sem ponto físico, sem proximidade alguma com a exatidão, ainda assim sabia até onde chegaria sem nenhum tombo ou arranhão.
Ela compreendia o mistério e o olhar mais do que ninguém, sua colcha de retalhos está sobre a cama, abrigando todos os vazios, ausências, palidez e silêncios e o sonho é o que a liberta para dentro de si e a conforta como o travesseiro.
(Juliana Trentini)
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