Depois de muito tempo, hoje, escolhi escrever o tempo. O tempo maldito e a quem sempre recorremos pedindo um pouco mais ou bis.
Nós estamos constantemente compondo cantigas de maldizer para nós mesmos todos os dias. Reclamamos, lamentamos, sofremos. Mas não há nada, nada que seja mais difícil do que a dor da perda. Essa cultura famigerada criada por nós ocidentais de tratar a morte como algo dramático e opressivo é que faz de nossas despedidas uma dor inestimável e como dói "perder" alguém amado.
Estou aqui madrugada a dentro tentando escrever minha dissertação sobre a morte, tentando digeri-la e aceitá-la pelos versos do ilustre, genial e singelo Manuel Bandeira, mas eis que invento de entrar no facebook (problemas do mundo moderno) e vejo uma nota de pesar de um amigo, com uma foto de sua bebê e frase de despedida com legenda "um anjo voltou ao céu" era mais ou menos assim que dizia, não sei direito porque desabei. Desabei como há muito não fazia. Desabei porque vi pais tristes, porém conscientes de sua missão como pais, compreensivos e saudosos. Devolvendo sua filha para as mãos do criador.
Eles me fizeram ter a certeza de que "escolhi" o tema certo (na verdade o tema me escolheu). Embora, as linhas fiquem embargadas, o pensamento não corra direito, pois eu senti a dor do outro. A dor que não posso fragmentar. Sou amiga distante, dos tempos sadios e felizes da infância, estes já estão na janela do passado. Mas a compaixão é algo que une os tempos distintos, os tempos desestruturados e desconexos.
Hoje, minha palavra é uma prece.
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