quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

último ato



Aprendeu todos os poemas do poeta. Vestiu o poeta e sua máscara. Acreditou-se ser. Fez acreditarem que fossem: Palavras costuradas com verbos cabíveis e no tempo apropriado.



Músicas foram compostas, versos e melodia. Havia rima para cada nascer do sol, havia rima para cada estrela-guia. 

A tempestade se aproximou do teatro, o picadeiro se desmanchou, a maquiagem se apagou e a carne ficou extremamente exposta, sem figurino, sem cor alguma. 

A chuva secou as lágrimas derramadas sem sentido, pois no cenário havia apenas um ator banal desempenhando sua peça clichê. E por fim não ecoou nenhum Debussy. A canção não era Claire de Lune , estava mais para “É o tchan no Havaí.”

Esperando vozes que nunca vieram, o ator saiu do palco e nem sofreu pela indiferença da platéia, afinal ele era medíocre demais para entender a importância de um aplauso. 

Fim.

Aperitivo poético:

Dizes-me

Dizes-me: tu és mais alguma cousa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?
Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:
Só me obriga a ser consciente.
Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.
Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.
Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada. Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?

Alberto Caeiro

2 comentários:

  1. Vinicius de Moraes sabiamente disse: “Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão”.
    Essa coisa de jogar num time, sem vestir a camisa, é inválida, é fraco, é atuação.
    Entendo bem os seus sentimentos, conheci muita gente que usa máscara, e olhe que despautério: não era fantasia de carnaval!
    Aquela famosa frase, muito usada em reality show, é muito cabível nessas situações: Um dia a máscara cai e invariavelmente o que vemos não é algo bonito, no sentido literal da palavra, damos de cara com a decepção. Porém, vem à vida, como diria Cazuza: “Desconhecida e mágica", e nos presenteia. Paciência e sabedoria!

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  2. Não se terá consideração dos miseráveis tolos, que como bobos esperam a chuva passar, podendo eles aproveitarem da água para lavar a alma!!!

    Assim sendo amiga... o que digo eu? Senão que... a tolice veio para todos, mas só os sábios despertam para a vida, e que você amiga despertou, conseguiu pôr para fora as roupas amareladas, as caixas rotas, as virtudes valentes, despindo-se do forte pensar para um mais frágil, porém mais sábio e inteligente pensar (não tome aqui como sinônimo)!!!

    amiga só resta agora a água das roupas evaporarem, mas o sol que se levanta tds os dias, independentemente de você, irá tratar de cuidar disso por você; basta apenas que a deixes secar!

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