Não sou de muitas palavras, mas minha alma foi alagada por elas. Eu me jogo em páginas versificadas e fico ligeiramente imóvel quando tenho que falar diante de tantas faces rasgadas e interrogativas.
Dê-me um papel e uma caneta se me quer por perto, presenteie-me com um livro ou CD de boa música se quereres me conquistar, não me esconda o microfone (além da voz desafinada) esta se amplia em silêncio.
Jamais consegui compreender o tempo, não tenho boa relação com Kronos. Sou mortalmente condenado a passar por este rio, ser, calar e deixar de ser. Ele sempre corre na eternidade, eu singularizo e deságuo feito nada, feito estranho vocábulo com estilo peremptório e visceral.
Vou ser sempre o que me falta, a lacuna, o buraco no lugar dos olhos. E as vozes que não são minhas e ainda assim me acompanham é que vão proferir em alto e bom tom qual é minha cor de fato; sei que são duas as cores, uma sob o sol, outra sob o luar; cor de estrela e asfalto. Sangria de açude e pasto.
Aperitivo poético
O Rio Fechado
Como saber a água
Com que tempo
Como saber o lodo
Como saber do Tejo
todo
Se é tempo
assim porque um rio baço
não mede em sua água
Baço é um rio
quando é fechado
ou se fluiu
encadeado
Saber do tempo
se mede a sua água
e dessa mágoa
somente se fluiu
como se fecha um rio
(Fiama Hasse Pais Brandão)
meu aperitivo:
Retrato de um poeta
Os papéis manchados de café
demonstram a distração morta de seus dias
ele passa as páginas e segue a pé
atropelando cada palavra e tropeçando no vazio
está cansado de metáforas sobre o rio
mas sabe que é sempre
uma voz nova corrente nessa foz
percorre o trilho
mas não é trem
se joga no abismo e abre passagem para a inércia
sempre escolhe a coragem abandonando a prudência
viagem feita de escolhas
nem sempre acerta
falta açúcar e leite em pó
sobram respingos nos papéis de letra já desgastada
metáforas cheias de nada
de nada ser, tanto se é
retrato de poeta
repousa em uma estante qualquer
(Juliana Trentini)
eu, repetitiva: LINDO, LINDO, LINDO TEXTO!!! affffffffffffffff
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