terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Dual




Ela prendeu-se a uma interrogação
Ele a amores vãos
Desencontros.

O olhar insistente
Diletante e teimoso
Desafia o acaso e rompe as impossibilidades

Eles se difundem nos contrastes
Como uma pintura barroca
Quadro sagrado e profano
Exibindo em tintas mais um desengano
Um amor lusitano.

Juliana Trentini


Aperitivo poético:

Destruição

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir mas o existido
continua a doer eternamente.

Carlos Drummond de Andrade

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