Fui oradora da minha turma - 2011.1 -Armadilhas de Letras- Letras UFRN
Gostaria de agradecer a presença dos membros à mesa, dos formandos, do nosso querido paraninfo, professor José da Luz, dos familiares e amigos. Boa noite a todos!
É uma honra poder ser a voz representante de tantas outras entonações que compõem o nosso coro; nós somos as vozes entrelaçadas por palavras; nossas armadilhas de letras formando canções habilitadas na língua portuguesa, inglesa e francesa.
E, nessas armadilhas em que caímos, aprendemos a costurar as palavras, os verbos – muitas vezes presos nos dentes para não desrespeitar o outro –, antes impossíveis de conter, pois instalávamos ventanias. Seguimos, por cinco anos, entre tempestades e sóis, entre palavras inauditas e gritadas, entre versos soltos e desmanchados pelo tempo, porém aprisionando todas as nossas vivências na memória. E algo que não nos podem arrancar, em tempo algum, são nossas raízes, muito bem fincadas com o aprendizado conquistado em sala de aula, nos congressos, nos corredores ou mesmo nas farrinhas acadêmicas, ficando a encargo das atividades extracurriculares. Assim como o amor criado pelo vínculo de cada tribo, cada grupo tornando-se uma árvore com seus devidos frutos, diversificando nosso paladar, nossas cores, nossa seiva.
Nesse solo fértil de narrativas e versos, nossas memórias inventadas sempre registrarão no backup a necessidade de se fazer análise do Quereres de um Caetano Veloso, ou dos quereres de um professor que, quando se empolgava, levantava da cadeira e, de maneira bem sutil, dava pulos de dança, ficando em meia ponta no seu All Star, falando sobre a importância do amor pela leitura e sobre um de seus desejos: se conseguisse fazer um aluno, apenas um aluno, gostar de poesia, já se sentiria realizado. Posso dizer que sua paixão não foi transmitida apenas para um, mas para muitos de nós. Dessa forma, pudemos colher essência até de uma terceira margem do rio, aquela aparentemente inatingível, porém concreta para quem consegue enxergar além do sonho.
Também ficarão registradas as clássicas jogadas de ombro de alguém que, à primeira vista, não demonstrava muita afetividade; no entanto, mostrou-se sempre solícita e, sem abandonar seu humor, por vezes sarcástico, estava sempre aberta a tirar dúvidas e a se fazer presente em todos os momentos significativos para os alunos, com sorrisos e lágrimas, além de um carinho que sabemos reconhecer na exigência e na capacidade de, com maestria, conseguir ministrar quatro horários de aula seguidos sem sequer percebermos o tempo passar, de nos fazer pensar e reconhecer nossos próprios erros e acertos e de nos fazer evoluir como alunos-professores em formação e como seres humanos.
Há também quem deixou a sala de aula para organizar todos os pingos nos seus respectivos is, colocando ordem na casa, fazendo do nosso curso um lar, oferecendo-nos um norte, enquanto corríamos para o sul erroneamente. Com sorrisos e coração escancarados, ninho abrigando seus filhotes.
Existiram aqueles que nos desafiaram, e pensávamos o quão terríveis eram, minando a nossa autoestima. No entanto, quando estávamos lá, prontos para deixarmos a peteca cair, surgia uma precisa mão, com um lápis grafite e uma borracha, para nos dizer como a história poderia ser escrita, fazendo desaparecer a escuridão.
São tantos, tantas marcas, tantas representações: vinho no Via Direta, café na cantina, teclados e parabéns... e fomos construindo ensaios de nós mesmos com a ajuda de nossos mestres e, como diria um deles, “não estou ensaiando, tentando acertar?” Sim, estamos tentando acertar, inventando nossas construções lexicais, nossos caminhos, nossas conquistas, como comprova Manoel de Barros: “Tudo o que não invento é falso”.
Vale ressaltar que este momento nos faz esquecer todos os copos de cólera entornados. O livro de mágoas ficou arquivado em um acesso restrito da biblioteca da nossa memória e será utilizado apenas para o nosso engrandecimento, para reconhecermos o quão importante foram as tristezas e as dificuldades.
A nossa Odisseia está chegando ao fim. Somos homeros vivenciando a nossa hora da estrela, sem macabeias iludidas e falecidas. Estamos felizes, somos felizes. Sabemos que toda felicidade exige valentia e, como foi mencionado na aula da saudade, valentia nós temos de sobra. Fomos capazes de batalhar e viver esse presente graças a uma união que chegou um pouquinho tarde, mas chegou. Hoje posso dizer que somos uma turma, que somos amigos.
Agradecemos à família e aos amigos, sem os quais nada disso seria possível. Para quem crê, o agradecimento vai principalmente para Deus, pois é d’Ele de quem nos valemos nos momentos desesperadores.
Quero finalizar este instante com a leitura de um poema cujo autor é Vicente Vitoriano, artista plástico e professor da UFRN:
POST SCRIPTUM
Apanhe o raio de sol que escorre pela goteira
e coloque no bolso para você usar mais tarde
quando for escuro.
Aproveite minhas palavras pois
minha permanência é passageira;
enfie-as nos ouvidos para curti-las
mais tarde quando eu estiver mudo.
Não conserve, entretanto, por demais sua apatia:
tente falar também, evite que seus dentes
fiquem cariados
pois a palavra é uma semente que já sai feito planta
quando é verdade
Aguarde minhas notícias e adeus.
Essas também são as nossas verdades. Aguardem nossas notícias, nós não vamos nos dizer adeus.
Parabéns pela conquista turma de 2011.1, que todos nós sejamos felizes!
Obrigada!