segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Narcísica



Diário da Ju III


“Tropeçavas nos astros desastrada
  Sem saber que a ventura e a desventura
   Dessa estrada que vai do nada ao nada
    São livros e o luar contra a cultura”

(Caetano Veloso)



Não. Não é egocentrismo, aliás, essa palavra me enoja um pouco, sempre procuro a variedade em si, dentro de um único ser que me habita, ser tantas em uma única carcaça é o que me alimenta constantemente.

E por que usar tanto a primeira pessoa? Simples, há um número a mais. Envelheci. Isso me assusta um pouco? Sim. Não pelo medo das rugas ou por achar que o tempo está passando depressa demais, isso não me amedronta, acho que “toda idade tem prazer e medo”, mas sinceramente, eu até ano passado odiava fazer festinhas de aniversário, tantas pessoas dizendo “parabéns”, mas por que parabéns? Eu não tive mérito nenhum! Apenas a coitada da minha mãe que por sinal sofreu muito no meu parto e eu ainda vim na condição de “acidente”. O fato é: alguma coisa mudou, não sei a razão, porém esse ano, resolvi ter bolo, amigos perto, cervejinhas, feijoada...E qual a razão?

A razão é ainda mais simples, descobri que fazer o que todo mundo faz não é tão ruim assim, afinal é apenas um dia que a gente “escolhe” para ser nosso e para festejar a vida de maneira mais particular e sociável ao mesmo tempo. Mas que graça teria envelhecer, senão existissem os amigos para compartilhar cada instante? Para falar besteira, rir, brincar, tomar banho de piscina, chorar, comer bolo, cantar e amar amar amar amar sem vírgulas ou ponto final. Pois a alma não é efêmera como o corpo e que a carne envelheça, pouco me importa!Minha alma já tem juventude engarrafada demais para guardar e distribuir todos os sonhos.

(Juliana Trentini)




Aperitivo poético que me representa nesse momento "eu" :

Alma errada


Há coisas que a minha alma,
já mortificada não admite:assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom,
a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há…
e quem é que hoje faz questão de virgindades…
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,ouvindo o que todos ouvem,
bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda.
(Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente,
o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido… 


(Mário Quintana)


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