quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Ser





Ela sempre foi muito chorona. Chorava de medo, de raiva, de dor, de desgosto e de amor. Um dia foi expulsa de si, do seu mundo, do seu quarto neutro de cortinas de cor indefinida e de paredes com telas de paisagens e um planeta terra sobre seus sonhos, terra que lhe abandonou de tanto cavar o chão, então faltou piso, faltou buraco.

Sobrou tristeza, tanta tristeza que forçou o choro e esse não veio. Tanta vontade de inundar o universo... Só conseguiu marejar os olhos, mas nenhuma lágrima caiu.

Ela virou palavra presa, inaudita, semente de mar, correnteza presa.


(Juliana Trentini)





Aperitivo poético:

Nostalgia

Nesse país de lenda, que me encanta,
Ficaram meus brocados, que despi,
E as jóias que p´las aias reparti
Como outras rosas de Rainha Santa!

Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta!
Foi por lá que as semeei e que as perdi…
Mostrem-me esse País onde eu nasci!
Mostrem-me o reino de que eu sou infanta!

Ó meu país de sonho e de ansiedade,
Não sei se esta quimera que me assombra,
É feita de mentira ou de verdade!

Quero voltar! Não sei por onde vim…
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!


(Florbela Espanca)

2 comentários:

  1. Que texto lindo ju. muito lindo mesmmo.


    maricotinha

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  2. Achei teu blog a partir do blog da Be Lins... que grata surpresa... estou amando... os textos e os aperetivos... que privilégio!
    Seus textos são suaves, líricos, profundos e sutis... o blog é lindo!
    Sua benção!

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