sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Tema Roubado




Desejo

abro a porta e quero engolir o mundo
não me satisfazem as molduras nas paredes da casa
nem os livros da estante tantas vezes já lidos

abro a janela e quero mastigar as nuvens
feito criança com algodão doce nas mãos
destelho o teto e parto quebrando o tempo

caçador de fases lunares
de estrelas cadentes
de naves espaciais
de sonhos e ilusões

desiludido
de possuir limitações
insatisfeito
triste de quem se conforma
com a dor instalada no peito

arranco o desengano das minhas entranhas
e desenganado vivo a procurar razão
há de existir algo melhor, amor maior
para quem não estaciona na primeira vaga que a vida exibe


(Juliana Trentini)





Aperitivo poético:






Segundo - O Quinto Império


Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem

No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem,
Que as forças cegas se dormem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no astro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatros se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vai viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

(Fernando Pessoa)



2 comentários:

  1. O primeiro texto é daqueles que a gente queria ter escrito.
    Não estacionar na primeira vaga que a vida oferece...

    Passei para desejar-te um feliz natal.
    Que o Natal reafirme em ti a certeza:
    Não somos parte do amor,
    somos o próprio amor.
    Que possamos envolver nossas famílias, amigos e humanidade com a força deste sentimento.

    Estrelas de paz brilhem em ti.

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