terça-feira, 28 de abril de 2009

"Quando eu morrer voltarei para buscar/ Os instantes que não vivi junto do mar" (Sophia Andresen)

Ás vezes a mente bloqueia, há dias que as frases e as formas abandonam o ser pré-existente que é esse que vos fala, o pensamento insiste em rodear, mas apenas cerca e cala e me permito ser invadido pelo inaudito.

De súbito vou deixando passos vagos pelo apartamento pequeno e procuro me perder pelo vento que segue fugido do mar, vai tentar abrandar alguém que está com calor em algum lugar por aí...crianças que buscam um sono tranquilo, casais que não se amam mais e dão as costas na cama, casais que fazem amor ouvindo um jazz ou um blues, senhoras solitárias que dormem cedo para no dia seguinte ir ao curso de pintura ou mesmo o escritor que lateja sentimentos de coisa alguma, querendo atingir alguém como uma faca que corta o queijo amarelo e saboroso e a boca que saliva e deseja.

Quem escreve observa a parede branca que nada diz, ser luz nem sempre significar ter luz, prefiro às sombras, a escuridão, o negro, o mistério é muito mais revelador do que a transparência. A parede nada diz pois esta é sua condição de estado, no entanto, é um baú em que estão todos os segredos, sussurros e pecados.

O véu que encobre a face carrega mais versos que o olhar acinzentado ou amarelo, a noite sempre esconde as facetas diurnas que não puderam acontecer, a noite revela e esconde o que existe atrás do muro e a cantoria que sai dos telhados.

Qual é a sua condição de estado? Gente, pedra, pente ou bicicleta?

Coleciono os não sentidos para ser coisa, ser coisa é bem mais do que ser humano. Pego a chave e desbloqueio, quebro a corrente, rompo o silêncio e parto.


Aperitivo poético:

Mas eu


Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem —
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.


(Álvaro de Campos)


Meu aperitivo:

Perdas


Deixei as pedras
Carreguei a terra corrida como poeira
Levei cansaços e lágrimas
Carreguei nas costas e nos pés
Algumas dores
Mas os desamores são maiores
Que a minha caminhada

Estou desarmada
E no céu não há a lua de São Jorge
Por mais que implore
Uma mudança
Formiga-me o pensamento
Repleto de perdas
E o desalento me acompanha
Falta-me ar, não há saída
Só há estrada e terra batida

Faço uma prece
A noite desce
Desembocando a madrugada
E já não espero mais nada
É só estrada, é só caminho
É só um rio que não corre
E nem morre.

(Juliana Trentini)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Invadindo a madrugada


A noite está irresistivelmente neon, a cidade alumia de maneira introspectiva, assemelha-se com o sertão, mas não é. Ela Escuta os latidos dos cachorros invadirem a madrugada, assim como um galo de campina precocemente começa sua cantoria bem antes da noite virar dia, o sol para ele nasce mais cedo, sua luz é invadida inversamente. Ela queria ser galo, ou pedra, ou música, mas não é. É crônica de coisa alguma, abstração, fumaça.

Sua rotina é cansativa, desgastante e apaixonante...há quem não se apaixone por poesia, crianças e chocolates? Há sim! Pessoas que lhe são desinteressantes. Ela não busca ninguém, mas como um imã é seduzida e atropelada por melodias etéreas. Fica cansada com alguns ritmos, não gosta de nada lento demais, nem de rock progressivo, não gosta de brega, nem de música eletrônica. Ela é um frevo-canção, nordestina, ritmada em fortes batidas.

As vezes se alimenta de vento e invade o mundo de Kronos corrompendo toda a lógica, arranca-lhe a juventude e lhe insere rugas na face. Não há deus algum que controle uma mulher de luz lúcida e de uma brutalidade domesticada.

Ela faz samba e não amor até mais tarde e não tem muito sono de manhã e sim muitas olheiras que disfarça com maquiagem, escuta Summertime e rasga os destemperos em sua passagem, ela passa, soberana e misteriosa, concreta e crua, jogando as gotas de sol pela rua, esperando o desfile da próxima lua.


Aperitivo poético de Sophia Andresen:

Neon

Luz descentrada e crua
Que não rodeia as coisas
Mas as desventra
De fora para dentro

Espaço duma insónia sem refúgio

Tudo é como um interior violado
como um quarto saqueado

Luz de máquina e fantasma



Meu aperitivo:


Canção de ser e estar


Ela canta sem palavras
Sinal de felicidade
E distração
Corre pela cidade
Pede socorro
Vai ao hospital engessar o pensamento
Foi atropelada por uma música
Socorro!
As melodias também sangram
E os dedos jorram poesia
Artéria rompida.

(Juliana Trentini)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

"A vida é louca/ a vida é uma sarabanda/ é um corrupio." (Mário Quintana)

Filosofias de café e escadas

Um sábado divertido cheio de risadagem, drinks “sabor café” e filosofias de escada. Imagine um grupo de amigos reunidos por alguns motivos em comum, o principal era: a boa música, muito boa por sinal! Show do Mad Dogs, bom como nunca!O som estava perfeito e o clima estava bastante intimista.

Bom, depois de alguns drinks e alguns e mais alguns, eis que uma amiga fica de pilequinho, nossaaaaaaa...tava muito engraçada! E gente alcoolizada adora filosofias estranhas, pois bem, ela resolveu filosofar sobre a escada e ai vão algumas frases por ela proferidas:

“O caráter de uma escada é fundamental na conquista de uma mulher” (Françoise Lima)

(Ela estava dando dicas para as amigas solteiras de como uma mulher deve se comportar na escada para conquistar um homem. Devo escutar esses conselhos?).

“Nunca tente pegar uma mulher no caminho do álcool profundo, procure uma mulher no caminho do álcool normal”. (Françoise Lima)

(estava dando dicas para um amigo e ele chegou à conclusão de que vai andar por aí com uma escada portátil e um bafômetro).

“A escada é uma metáfora para os clichês pop-rocks da vida". (Françoise Lima)

(eu não sei que dica ela quis oferecer com essa frase, mas tudo bem).


O fato é que terminamos a noite fazendo o escaDRIVE ( todos desceram as escadas de maneira sensual ou não)e nos divertimos muito e eu cheguei a conclusão de que: “ Na vida há três coisas fundamentais pra se viver: música, café e escada” o resto é filosofia cotidiana, acessório e chão.

Mas me diz uma coisa: Alguém quer fazer o escaDrive comigo?

P.S:. Essa pergunta vem acompanhada de um risinho sem vergonha.



Aperitivo poético do dia:

ESCONDO CAMISAS USADAS NO ARMÁRIO
Largo frascos abertos no banheiro.
O café condiciona meu hálito.
Nem toda carga que levo é sumo.

(Fabrício Carpinejar)



Meu aperitivo:


Café e escadas


são alguns poucos degraus
e longa ou talvez não é a estrada
o café está quente e cheiroso
vou pendurando mandalas pela casa

encontro os amigos notívagos
e todos descemos juntos as escadas
seja do tempo ou do hábito
o que vale é atenuar o hálito

seja corrente esse vento
o calor é o alimento humano
risos e desenganos
são sempre fartos
pode até faltar o açúcar
saboreio o amargo.

(Juliana Trentini)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

"De súbito aconteço. A madrugada/ Devolve as minhas mãos cotidianas" (Deífilo Gurgel).

Tem dias que nada faz a gente querer sair de casa, seja a boa música, bons amigos, conversa jogada fora, olhares novos ou mesmo olhares antigos.

Há dias em que preferimos o silêncio e as cortinas, a cama chamando convidativa para uma entrega, um encontro célebre com Morfeu e todos os passeios astrais.

Hoje era um dia bom para tomar um banho com sais e canela, perfumar a casa e perfumar a alma, mas foi preferível continuar impura, cheia de desejos e pecados que serão todos confidenciados ao confortável travesseiro.

A travessia espera um dia de trabalho, de sorrisos e sol que virá pela manhã, e a cidade toda se ilumina pela janela ofuscando os segredos de vinho tinto e da queda de energia do dia anterior. Tudo é enigmático, nem ao menos nós mesmos sabemos o que queremos, mas queremos sempre algo.

E essa chuva que cai agora, sou eu perdidamente... me entregando ao casulo, enclausurando-me e escorrendo todos os erros pelos telhados, feito gatos negros cantando um saltimbanco.

O celular eu coloco no silencioso e esqueço as ligações vindas e as não vindas também, nem sempre é bom corromper o silêncio das palavras.


Aperitivo poético de Anchella Monte (minha mãe):



Itinerante

O dia devolve a minha agenda
É preciso fazer as oferendas
À vida: trabalhar e conviver.

O dia põe seu olhar sapiente
Para nada ser esquecido
No cotidiano já estabelecido.

O dia é meu severo vigia
Sabedor dos meus anseios
De deixar tudo pelo meio.

O dia me controla e salva
A minha memória seletiva:
Sei que estou viva.

Mas chega a madrugada
Que embora já bem tarde
Devolve-me a liberdade.

De repente me reconheço
E me aconchego comigo
Querendo ficar no abrigo.

Itinerante assim me ponho
E me permito o que posso:
A necessidade e o sonho.



O meu aperitivo:

com a chuva veio:
palavras mal pronunciadas em espanhol
o vinho tinto
dia atípico

amigos recém nomeados
música ruim
um homem tocando teclado
E um parabéns

dos cabelos saem cupins
E borboletas
Coisas vindas da água

a cidade silencia e para:
são tantas perguntas
e resposta não há pra nada

Engano.
não há pergunta nenhuma
há resposta para tudo

o bom de ser
é não ser coisa alguma
o bom de viver
é não saber
em que silêncio adormecem os verbos
e em qual lã tecemos as dúvidas
em qual fuso furaremos os dedos
ou em qual horário afogaremos os medos

em súbita escuridão me perco
e não há perda alguma
achamos pecados na rua vazia
entre cílios, melodia e coragem
ela pede passagem
e vai erroneamente


(Juliana Trentini)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

" O homem é menor do que sua busca" (Carpinejar)


Estava conversando com Silvinha (prima por parte de mãe/isso porque tenho duas primas chamadas Silvia) sobre minhas incoerências e ela me disse que não valia a pena preocupar-se com isso, pois a vida é uma só e o bom é ser incoerente mesmo e o que importa é experimentar (o discurso dela não está ao pé da letra), mas a essência era essa.


O fato é que vivo como se só tivesse essa vida pra viver, embora eu seja espírita (meio sem futuro, mas sou) e acredito que essa é só mais uma estrada que estou trilhando, dentre tantas outras que já percorri e ainda percorrerei. Não penso muito, faço acontecer. Falo o que me dá na telha, ainda que tenha o costume de colocar mel nas palavras. Na maioria das vezes a faca vai entrar e você nem vai perceber, porém não me pegue em dias de TPM que eu sou curta e grossa.


Chega de falar de mim!Isso não é um diário e eu não tenho mais 15 anos para ficar enchendo os ouvidos, ou melhor, os olhos alheios com tanto “blá-blá-blá”. Quero falar agora de uma poeta que conheci recentemente nas minhas aulas de tópicos da literatura portuguesa. O nome dela é Sophia Andresen, achei extraordinária! Aparece com sua poesia em 1944, mas a sensação que tenho quando a leio é de estar em contato com algo muito moderno. A sua poesia tem uma espécie de aceitação do destino e admiro isso nas pessoas e nas palavras, embora eu seja uma contestadora, aceito os fatos e escolho a margem onde a canoa irá aportar.




Aperitivo de Sophia:


Não creias, Lídia que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.

Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.

Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não vivido deixa.

Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo.







Meu aperitivo:

Distancie-se

Não te prendas pelas loiras tranças
Nem pela canção inebriante e chorosa vinda da torre
A música se dispersa no vento
E a luz do sol que irradia
Será noite devorada pelo tempo

Distancie-se
A voz é de Iara
Fazendo o mar de águas claras
Virar revolto de águas turvas

Distancie-se
Não a olhe nos olhos
Tape os ouvidos
Desvie a rota
Ou aporte junto às conchas, feito pedra que naufraga.

(Juliana Trentini)

domingo, 12 de abril de 2009

"A claridade não se repete. A vida estala uma única vez." (Carpinejar)


Estava relembrando maldades que cometi na infância e me veio esse texto que é imaginário...com pitadas de realidade. É, eu fui do tipo que não vinha apanhada da escola e nem levava desaforo para casa. Lá vai o textinho:


RAÍSSA



Raíssa sorria feliz, sempre com um batom rosa-choque e calças pega-bode. O cabelo estava sempre desarrumado e as meias brancas de cano alto inibiam sua feminilidade. Tinha um coração enorme, mas era alvo de piadas e deboches pelo seu jeito não convencional de ser.

Ela tinha 14 anos, muitos sonhos e muita vontade de mudar o mundo; no entanto, Raissa não percebia que primeiramente precisava mudar o seu próprio mundo. Seguiu sua adolescência isolada em companhia de um diário, em que declarava seu amor cotidiano e brutal por um padeiro que apenas lhe sorria gentilmente. Ela desabava em prantos quando a noite chegava silenciosa e triste. Escondia seus medos e anseios de sua mãe (sua única companhia humana) e assim seguia...sorrateiramente aceitando sua insignificância que povoava a terra.

Um dia encontrou sua mãe fria e imóvel. Ela havia ido embora com as asas de Ícaro, sem cumprir aviso prévio. E qual foi o destino de Raíssa? Ela não derramou nenhuma lágrima, velou sua mãe e velou também a própria casca mortalmente insignificante junto ao velório de sua mãe. Foi-se assim o batom pink, as meias de cano alto, a calça pega-bode e o padeiro, todos foram enterrados.

E como é lei natural da vida, uns morrem para outros poderem nascer. Ela morreu junto a sua progenitora e todos os seus desenganos passados e nasceu no mesmo dia, com o mesmo nome e a mesma vontade de mudar o mundo. Agora já sabia que o seu próprio mundo ela mudaria. Mudaria a si, com um batom cor de boca e um vestido branco discreto.

Seguiu um caminho deserto, até que achou uma pedra de nome Roberto Ferreira de Souza que a fez feliz e triste em seu cotidiano ordinário e mortalmente significante para alguém.

(por mim mesma)


Poeminha fora de contexto:

Verso solto

não há saudades do passado
sem armas, sem armadilhas
me algemo ao futuro
e sinto não ter vivido
o sonho desconhecido.

(Juliana Trentini)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

"Bom é corromper o silêncio das palavras"(Manoel de Barros)


Hoje, corrompi o silêncio! Gritei ao mundo, dei-me uma carta de alforria.

E como alguém que desafia a calmaria, sou alguém que conta um conto e aumenta um ponto. Então... Eros e Psiquê(by Juliana Trentini):


Psiquê, estais perdoada! - Disse Eros, com voz arrastada.

Estou?Ainda me amas? Podemos viver um sonho de uma noite de verão? – perguntou Psiquê entusiasmada.

Sim, o perdão tem. O amor é eterno. O sonho de uma noite de verão foi apenas uma noite divertida de confusão. Quando você acendeu a luz, apagou-se a chama do respeito e da confiança. O amor não é cego, mas ele fecha os olhos e se entrega suavemente, pisa em cacos, sangra, chora, mas permanece mazelado e confiante.

Psiquê se desmancha em lágrimas, Eros voa...ela povoa a terra mortalmente amargurada e ele explora a dor entre as nuvens, imortalmente condenado a amar incondicionalmente.


Alguém foi feliz nessa história? Não!

E existe felicidade eterna quando se ama? Também não.

Você deseja não amar jamais? Duvido!

Eu? Eu...

Psiquê

sendo Psiquê
meu ato falho é enxergar.
quem ama convencionalmente é cego, insano
escuto a voz do desengano
acendo a luz e queimo as possibilidades
dei asas à liberdade
minh’alma
abandonou o amor
e abraçou a saudade.

(Juliana Trentini)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O dia em que Juliana parou

Essa semana eu ando meio distraída, não estou no ritmo do tempo, enquanto os segundos correm... eu me decido por ser: “horas arrastadas de nada”. O olhar está mais ausente, está escasso de sentimentos, estou tão vazia. Sinto falta de palpitações, de frio na barriga, de medo, de coragem e de perguntas sem respostas. Onde foi parar aquela outra voz? Ou a mesma de sempre, aquela gasguita e desafinada... está tão silenciosa. É, acho que hoje foi o dia em que Juliana parou e disse assim: “Socorro, eu não estou sentindo nada!”.



Socorro

Cássia Eller

Composição: Arnaldo Antunes/Alice Ruiz


Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir
Socorro, alguma alma, mesmo que penada
Me entregue suas penas
Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate, nem apanha
Por favor, uma emoção pequena
Qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Em tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada
Socorro, eu já não sinto nada, nada







O aperitivo do dia:

Não ser Odin

há quem cuide da humanidade
há quem ofereça um olho
e encontre todas as respostas
viro as costas para serenidade
prefiro o medo e a interrogação
digo não aos sacrifícios

pouco me importam as crenças
como oferenda aos deuses
me ofereço, inteira e pelo avesso

(Juliana Trentini)

domingo, 5 de abril de 2009

Bom dia!


Hoje tive folga pela manhã, acordei tarde e estou apressada para ir trabalhar, mas antes quis vir aqui desejar um bom dia...isso porque acordei muito confusa das ideias e pensei: Preciso de palavras, urgentemente!Mentalizei, fechei os olhos e peguei um livro, era um de Shakespeare e falava dos olhos da amada.Ai pensei: "Putss, nada a ver!" foi quando eu vi um pedaço de jornal velho marcando a página, nele tinha um texto de Fernando Pessoa.Então pensei: "Putss era isso que precisava ouvir, ou melhor, ler!"


Então ofereço a vocês o que me foi dado de presente pelos deuses:


Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá. Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra. Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.

Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa
de chegar sabe-se lá onde.Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.

As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces. O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o! Quem você ama? Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave! Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.

Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro, se a idade aumenta; conserve a vontade de viver, não se chega à parte alguma sem ela. Abra todas as janelas que encontrar e as portas também. Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho. Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho. Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.

Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for. Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso. Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam. Olhe para o lado, alguém precisa de você. Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca. Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os. Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também. Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.

Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte!Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. Se estiver tudo certo,continue.

Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!
"Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada".



Agora o meu aperitivo:


Ela

todo dia ela morre um pedaço
corre no espaço
atravessa o tempo
se faz cicatriz e foge

segue descontente
e o sonho passa rente
frente aos olhos cor de cansaço

espia o mar e distancia
volta pra casa
cheia de palavras retidas
abre a janela e foge
para dentro de si

liga o ventilador
vê-se no espelho
maquia-se sem vontade
e foge pelo reflexo

bate na porta do mundo
e diz
Estou aqui
Sim, estou sim!
E espera as asas do azul a levarem
Para onde deva ir

(Juliana Trentini)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Quem é mais sentimental que eu?

















Em uma conversa casual com um amigo, falávamos de sentimentalismo...acabamos citando um amigo em comum que é uma pessoa extremamente sensível, sente falta de ligações, de presença, não sabe direito ouvir um não.Mas quem é que sabe?Eu sei ouvir com elegância, gostar não gosto, fato!Mas, porém, contudo e todavia, faço como um leão com espinho no pé, não perco a pose.

O meu sentimentalismo se manifesta de várias maneiras, eu gosto de ler poesias e outras histórias para a minha avó, gosto de declamar poemas para minha amiga quando ela está triste e alisar seus cabelos alvinegros, mas vê-la prender o choro não é tão digestivo e, como amiga-mãe, eu choro por ela e como choro!Fico assistindo o seu olhar longe e o travesseiro virar pedra e teia de mágoas. O sentimentalismo de mar, ela cala, é silêncio!O silêncio que aprendi a ler desde cedo, desde os tempos que brincávamos com a pedra da lua, que eu usava camisetinha do Mickey e cabelos curtinhos. Ela carregava um gostoso sorriso e verbalizava uma pergunta. O verbo poder! “Posso sentar ao seu lado?” Pode! E desde então estamos juntas, a mesa não é mais acompanhada de quatro cadeiras pequenininhas, nem estamos nós, eu, ela, Lydio e Rodrigo. Mas não deixamos de nos ver, nem de nos juntarmos em uma mesa com outras tantas cadeiras, com boa comida, bebida e outros tantos amigos que povoaram a infância e povoam ainda os dias atuais. O mar volta e meia engole nossas idéias, e o quarteto não fantástico segue com seus sais e sonhos, vendo Kronos nos devorando sem piedade. Acabou chorare e findar faz parte do trajeto do ser.

O fim é apenas um ciclo. E falando em ciclos, permitam-me sair do sentimentalismo amizade e invadir o sentimentalismo amor. Estamos em “Ciclo de amor perdido” ( título do próximo poema) E eu só peço encarecidamente que não me venha com flores, nem com bichos de pelúcia, nem com frases meiguinhas. Meu sentimentalismo é sensorial, é o arrepio, é o enlace, são os dedos, as vozes silenciosas, o olhar misterioso e denunciante, o chocolate e a música saborosa como um café em dia frio.
O meu aperitivo é vermelho, minha amizade é azul.

Eu descobri a simbologia das cores, estou como Florbela hoje, um tanto violeta!


Aperitivo poético do dia:


Ciclo de amor perdido

vai
assim minúsculo como é
não agrada o diminutivo
coisas pequenas são irrisórias
pessoas pequenas carregam grandes histórias

volta
está perdido
nunca sabe o ponto de partida
nem sabe se vai ou se fica

vai
sua alma está arredia
e essa inquietude incomoda
pega o trem, pega o cavalo
vira pássaro
vai embora

volta
a estrada está vazia
não há sinais
nem carros
nem chão, nem asfalto

fica
abrigo
te
mostro o destino
tudo é pecado, é etéreo
é culpa, é passado
eu passo

e a cortina é cauda de qual cor?
Vermelho e azul
É roxo
Ciclo de amor

perdido

(Juliana Trentini)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Liberdade


Há dias que fico pensando no contexto da palavra “liberdade”, para alcançar a dimensão de significância que ela exprime, penso primeiro na sua definição advinda do dicionário.

Liberdade, s.f. 1. Direito de uma pessoa agir segundo sua vontade; 2. condição de homem livre; s.f.pl.3. Imunidades; regalias; 4. modo de proceder com desprendimento das convenções sociais. (Dicionário Tropical de Soares Amora)

E em que contexto se admite a sua liberdade?E a nossa?E a minha individualmente? É difícil separar essa estreita linha que existe nos limites das convenções sociais e no desejo amplo de ser homem-pássaro que o indivíduo possui.

Talvez o mundo não funcionasse se não existissem regras, proibições, algemas e gaiolas. O famoso jeitinho brasileiro não saberia manter a ordem e a paz sem olhares de reprovação e sem punições. O limite nem sempre é o céu e as nossas asas assim como as de Ícaro podem ter um fim trágico. No mais não deixamos de querer pular de pára-quedas, voar de asa delta, correr com velocidade no carro, escalar uma montanha... e descobrir escadas e sonhos que ultrapassam qualquer limite, qualquer olhar duro, qualquer palavra de reprovação, qualquer algema, qualquer gaiola.

Sejamos pássaros, cortemos a raiz que nos repreende e nos petrifica a ser apenas contorno de rio. É importante o adubo, o cultivo, o verde, mas esqueçamos às amarras, e deixemos que a água corra livre buscando uma terceira margem... nada de lua ser espelho do tempo, nada de homens formando teias, vamos seguir o caminho das baleias e sentir o gosto do sal temperando as têmporas.

Vamos cuidar do corpo, da matéria, pois a alma está arredia, ela suplica e o eco se esvai com o vento: Liberdadeeeeeeeee... L-I-B-E-R-D-A-D-E!

E como diria com maestria o poeta Mário Quintana:

“Os outros passarão
Eu passarinho”



O aperitivo poético do dia:

Livre arbítrio

Quer buscar o som
apreender, engaiolar
procura o tom
no escurecer de cada olhar

Não consegue, jamais conseguirá
o homem busca ser pássaro
a terra vai perdendo a cor
e se é de barro ou aço
me desfaço em dó maior
pois o vermelho já se sabe
é matéria, é corpo, é carne

e o homem em verdade
não quer zelo, só vaidade
quer azular e clarear
se depreender , enlouquecer
formigamento
tormento
vôo
espaço
um passo
uma alçada
e a caminhada jamais é reta.

(Juliana Trentini)