sexta-feira, 24 de abril de 2009

Invadindo a madrugada


A noite está irresistivelmente neon, a cidade alumia de maneira introspectiva, assemelha-se com o sertão, mas não é. Ela Escuta os latidos dos cachorros invadirem a madrugada, assim como um galo de campina precocemente começa sua cantoria bem antes da noite virar dia, o sol para ele nasce mais cedo, sua luz é invadida inversamente. Ela queria ser galo, ou pedra, ou música, mas não é. É crônica de coisa alguma, abstração, fumaça.

Sua rotina é cansativa, desgastante e apaixonante...há quem não se apaixone por poesia, crianças e chocolates? Há sim! Pessoas que lhe são desinteressantes. Ela não busca ninguém, mas como um imã é seduzida e atropelada por melodias etéreas. Fica cansada com alguns ritmos, não gosta de nada lento demais, nem de rock progressivo, não gosta de brega, nem de música eletrônica. Ela é um frevo-canção, nordestina, ritmada em fortes batidas.

As vezes se alimenta de vento e invade o mundo de Kronos corrompendo toda a lógica, arranca-lhe a juventude e lhe insere rugas na face. Não há deus algum que controle uma mulher de luz lúcida e de uma brutalidade domesticada.

Ela faz samba e não amor até mais tarde e não tem muito sono de manhã e sim muitas olheiras que disfarça com maquiagem, escuta Summertime e rasga os destemperos em sua passagem, ela passa, soberana e misteriosa, concreta e crua, jogando as gotas de sol pela rua, esperando o desfile da próxima lua.


Aperitivo poético de Sophia Andresen:

Neon

Luz descentrada e crua
Que não rodeia as coisas
Mas as desventra
De fora para dentro

Espaço duma insónia sem refúgio

Tudo é como um interior violado
como um quarto saqueado

Luz de máquina e fantasma



Meu aperitivo:


Canção de ser e estar


Ela canta sem palavras
Sinal de felicidade
E distração
Corre pela cidade
Pede socorro
Vai ao hospital engessar o pensamento
Foi atropelada por uma música
Socorro!
As melodias também sangram
E os dedos jorram poesia
Artéria rompida.

(Juliana Trentini)

Um comentário:

  1. Cada dia melhor. Um dia você vai conseguir entender o Rock Progressivo. Eu não descobri, ainda que tardiamente, Carpinejar? E olhe que foram anos de proximidade desinteressada...

    Quem sabe o mesmo acontece com você e os progs.

    Mas, sinceramente, espero que não. =)

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