domingo, 12 de abril de 2009
"A claridade não se repete. A vida estala uma única vez." (Carpinejar)
Estava relembrando maldades que cometi na infância e me veio esse texto que é imaginário...com pitadas de realidade. É, eu fui do tipo que não vinha apanhada da escola e nem levava desaforo para casa. Lá vai o textinho:
RAÍSSA
Raíssa sorria feliz, sempre com um batom rosa-choque e calças pega-bode. O cabelo estava sempre desarrumado e as meias brancas de cano alto inibiam sua feminilidade. Tinha um coração enorme, mas era alvo de piadas e deboches pelo seu jeito não convencional de ser.
Ela tinha 14 anos, muitos sonhos e muita vontade de mudar o mundo; no entanto, Raissa não percebia que primeiramente precisava mudar o seu próprio mundo. Seguiu sua adolescência isolada em companhia de um diário, em que declarava seu amor cotidiano e brutal por um padeiro que apenas lhe sorria gentilmente. Ela desabava em prantos quando a noite chegava silenciosa e triste. Escondia seus medos e anseios de sua mãe (sua única companhia humana) e assim seguia...sorrateiramente aceitando sua insignificância que povoava a terra.
Um dia encontrou sua mãe fria e imóvel. Ela havia ido embora com as asas de Ícaro, sem cumprir aviso prévio. E qual foi o destino de Raíssa? Ela não derramou nenhuma lágrima, velou sua mãe e velou também a própria casca mortalmente insignificante junto ao velório de sua mãe. Foi-se assim o batom pink, as meias de cano alto, a calça pega-bode e o padeiro, todos foram enterrados.
E como é lei natural da vida, uns morrem para outros poderem nascer. Ela morreu junto a sua progenitora e todos os seus desenganos passados e nasceu no mesmo dia, com o mesmo nome e a mesma vontade de mudar o mundo. Agora já sabia que o seu próprio mundo ela mudaria. Mudaria a si, com um batom cor de boca e um vestido branco discreto.
Seguiu um caminho deserto, até que achou uma pedra de nome Roberto Ferreira de Souza que a fez feliz e triste em seu cotidiano ordinário e mortalmente significante para alguém.
(por mim mesma)
Poeminha fora de contexto:
Verso solto
não há saudades do passado
sem armas, sem armadilhas
me algemo ao futuro
e sinto não ter vivido
o sonho desconhecido.
(Juliana Trentini)
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